Jesus ainda está em território estrangeiro, em Decápolis, e acontece a segunda multiplicação dos pães e dos peixes (Mc 8:1-9). Surge uma pergunta: porque é que Jesus fez este milagre duas vezes de forma tão idêntica? Alguns alegam que foi apenas um milagre, desdobrado em duas versões. Obviamente que isso está errado porque há detalhes diferentes nos dois. O próprio Senhor Jesus disse que foram dois milagres (Mc 8:17-21). Este segundo milagre serviu para eliminar eventuais dúvidas de alguns cépticos que não acreditaram na primeira multiplicação. Em terras de gentios, Jesus demonstrou que a sua mensagem e provisão são para todas as nações. Mas talvez a principal razão porque Jesus fez este segundo milagre, que ressalta do texto sagrado, foi a profunda compaixão do Senhor pelas pessoas à sua volta.
Jesus fugiu das multidões quando foi para a Fenícia, mas as multidões teimavam em não fugir de Jesus. O Senhor tinha sido rejeitado pelos seus, os da sua nação, e agora os gentios seguem-no efusivamente. Jesus chama os discípulos e diz que tem compaixão daquele povo que está há três dias sem comer. Ao contrário do que alguns santarrões pensam, Jesus não cuida apenas do espírito das pessoas, Ele deseja suprir todas as necessidades.
A compaixão é uma emoção muito forte que se traduz num sentimento de empatia, amor e misericórdia e que procura aliviar o sofrimento alheio. É mais do que “ter pena”. O termo na Bíblia está ligado à ideia de sentir as entranhas a revolverem-se. A compaixão sempre foi uma das marcas de Jesus. A compaixão verdadeira leva à acção. A compaixão aqui multiplicou o pão e os peixes. Tinha sido também a compaixão a causa primária na primeira multiplicação (Mc 6:34).
O Senhor perguntou aos seus discípulos quantos pães eles tinham. Eles responderam que tinham apenas sete pães e alguns peixinhos. Nada podiam fazer. Na nossa força e poder nada podemos fazer, mas o pouco que temos, colocado nas mãos do Senhor, pode abençoar muitas vidas. Jesus mandou a multidão sentar-se no chão, tomou os pães e deu graças. Aconteceu o milagre. Deu graças também pelos peixinhos e multiplicou-os também. O deserto e as impossibilidades humanas não impedem que Jesus realize grandes e poderosas coisas. Ele pode!
O relato termina dizendo que todos comeram, ficaram satisfeitos e ainda sobejou muito pão. Guardaram os pedaços em sete grandes cestos. Quando a abundância chegar à tua vida, não desperdices, partilha o muito que tens recebido das mãos do Senhor.
Algumas lições e aplicações desta passagem:
1. Deus ama a todos e não faz diferença de pessoas. Quando os judeus estavam com fome, Jesus multiplicou os pães, quando os gentios estavam com fome, Jesus multiplicou os pães da mesma maneira. Jesus ama a todos e morreu por todos. "O Senhor compadece-se mesmo daqueles que não fazem parte do seu povo – aqueles que não têm fé, que estão sem a graça divina, os seguidores deste mundo. Jesus mostra-se terno para com eles, embora eles não o percebam. Ele morreu na cruz por eles, embora se importem pouco com o que Ele realizou na cruz do Calvário. Jesus está disposto a acolhê-los graciosamente, a perdoá-los gratuitamente, se eles se arrependerem e crerem nele", comentou J.C Ryle.
2. Nestes nossos dias de tanta fome espiritual, a compaixão precisa ser multiplicada. Que possamos estar atentos às necessidades físicas, emocionais e espirituais. Estar dispostos a ser usados por Deus para Ele as saciar. Deus quer usar o teu pouco para fazer muito. As nossas atitudes de compaixão evidenciam o amor de Deus na nossa vida.
3. Quando andamos com Jesus, podemos ter lutas, dificuldades, até passar dias sem comer, mas Deus sempre vai suprir as nossas necessidades. Que possamos ter a fé do Apóstolo Paulo, que acreditava no Deus que abençoa e supre: “O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Fp 4:19). Jesus é poderoso para suprir as nossas necessidades e as dos que estão à nossa volta, por vezes de forma surpreendente que não esperávamos.
4. Este segundo milagre de Jesus é uma lembrança que Jesus pode repetir as coisas grandiosas e poderosas que fez no passado. Com Cristo há suprimento e esperança. Entrega as tuas necessidades ao Senhor e confia que Ele vai suprir, segundo a sua graça e vontade, tudo o que necessitas.
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