quinta-feira, julho 25, 2024

Migalhas do céu

Evangelho de Marcos narra que Jesus saiu de Israel e vai para a Fenícia. Tiro e Sidom eram cidades localizadas junto ao Mar Mediterrâneo e aquela região pertencia à Síria. Provavelmente Jesus foi ao estrangeiro para descansar. Estava cansado das multidões e dos constantes ataques dos religiosos judeus. Se o servo de Deus não descansar depressa irá sucumbir.

Entretanto, já na Fenícia, uma mulher perseguia Jesus aos gritos, rogando-lhe que curasse a sua filha endemoninhada. Incomodados com a gritaria, os discípulos de Jesus pediam-lhe que a mandasse embora. Porém, ela não desistia. Entrou na casa onde Jesus estava e lançou-se aos seus pés. Esta mulher sendo siro-fenícia de nascimento e com a cultura, a religião e a língua grega, estava ali a adorar O Senhor. 

Perante a insistência daquela mãe, Jesus responde algo estranho, que até parece insultuoso: “Deixa primeiro saciar os filhos, porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.”  Os cães eram pouco considerados neste tempo. Os judeus consideram-nos animais imundos. Chamar alguém de cão era um grande insulto. É óbvio que a resposta de Jesus é figurada. O Senhor não está a tratar aquela mulher como uma cadela. O Senhor está a dizer-lhe que as Boas Novas do Evangelho eram em primeiro lugar para as “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15:24). 

A mulher não ficou ofendida com as palavras de Jesus. Em vez de se calar ou ir embora, esta mãe respondeu de uma forma arrojada: “Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, as migalhas dos filhos.” Que diferença de atitude desta mulher comparada com os fariseus. Ela não atacou e nem defendeu os seus próprios direitos e razões. Reconheceu quem ela era e quem Jesus era. Esta mulher já tinha reconhecido que Jesus era “Senhor, Filho de Davi.” Esta declaração revelava que ela acreditava que Ele era O Messias, o Salvador prometido. 

Perante a resposta humilde e ousada daquela mulher, Jesus replicou: “Por essa palavra, vai; o demónio já saiu de tua filha.” A mulher dispôs-se a comer as migalhas que caem da mesa porque “migalhas também são pão”. Migalhas do Filho que são o nosso alimento. Migalhas poderosas que caem do céu e saciam a nossa alma. Mas os milagres do céu são para quem está disposto a se humilhar no chão perante O Senhor que tudo pode.

R. C. Sproul realçou que “o verdadeiro crente saboreia cada migalha que vem da mão de Deus. A boa notícia é que, no derramamento da misericórdia e da graça que nos vem das mãos de Deus, embora devêssemos estar satisfeitos com migalhas, Ele não se satisfaz em dar-nos migalhas. Ele prepara uma mesa diante de nós.” 

A filha daquela mulher siro-fenícia ficou curada. Quando a mãe chegou a sua casa, a sua filha estava tranquilamente deitada na cama, totalmente liberta dos demónios. Os demónios não resistem ao poder de Jesus, mesmo à distância. Basta uma palavra de Jesus e tudo muda. Quem tem Jesus na sua vida não teme os poderes das trevas. 


Algumas conclusões e aplicações

1. Esta mulher é um incentivo à intercessão. Nunca desistas de orar e clamar pelos teus filhos e pela tua família. Ora pelo grande milagre da salvação. Oremos pelos milagres do Senhor. Que os demónios que atormentam tantas vidas hoje, sejam expulsos pelo poder de Jesus Cristo. 

2. Esta mulher adorou Cristo aos seus pés. Jesus elogiou a fé persistente daquela mulher. Precisamos orar e adorar O Senhor todos os dias. Esta mulher lutadora e persistente, ensina-nos a acreditar e a confiar de forma perseverante no poderoso Salvador Jesus.

3. Jesus honrou aquela mulher gentia. Deus quer salvar todo o tipo de pessoas. Num tempo em que estão a chegar a Portugal tantos imigrantes, Jesus ensina-nos a receber e a acolher a todos. A igreja é inclusiva porque Deus ama todos os povos e etnias.

4. Por último, alimentemos a nossa alma, com as migalhas que caem do céu, através da Palavra do Senhor, a Bíblia. Que ninguém se julgue completamente saciado por já saber algumas coisas das Escrituras Sagradas. Que tenhamos a fome espiritual do profeta Jeremias:

“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome me chamo, ó SENHOR, Deus dos Exércitos.”
- Jr 15:16.

 

segunda-feira, julho 15, 2024

Três efeitos

 "Haverá três efeitos de estar próximo a Jesus: humildade, felicidade e santidade." 

- Russel Shedd

terça-feira, julho 09, 2024

Contaminação do coração

Marcos conta que os religiosos judeus ficaram muito incomodados ao constarem que os discípulos de Jesus comiam pão sem lavar as mãos. Essa lavagem não está relacionada com questões de higiene, mas com as leis cerimoniais de purificação religiosa. A lei mosaica determinava que os sacerdotes deviam lavar as mãos e os pés no serviço do Tabernáculo (Ex 30:17-21). Mas a tradição dos anciãos inventou um conjunto de regras adicionais que impunham a lavagem das mãos, pés, copos, jarros, vasos e até as próprias camas. Quem não cumprisse com essas regras, era considerado impuro e espiritualmente contaminado.

Indignados, estes religiosos perguntaram a Jesus a razão do procedimento dos discípulos. Citando Isaías, Jesus chama-os de hipócritas por estavam a valorizar leis exteriores mas o seu coração estava longe de Deus. O termo “hipócrita” referia-se a um actor que usava uma máscara para parecer ser o que realmente não era. Quantas vezes nós também somos assim. Queremos mostrar aos outros aquilo que na verdade não somos. Que Deus perdoe a minha hipocrisia. J.C. Ryle alerta: “Proferir palavras bonitas não devem satisfazer-nos se o nosso coração e os nossos lábios não estiverem em harmonia.”

Jesus disse-lhes que estas regras eram “mandamentos de homens”, não de Deus. Era um dos fardos que os religiosos inventaram para carregar e oprimir o povo (Mt 23:2-4). Em vez de ensinarem e praticarem os mandamentos de Deus, desprezavam-nos e criaram preceitos de tradição humana. A autoridade espiritual baseada na tradição humana oprime e desvia as pessoas da verdadeira autoridade das Escrituras Sagradas.

O Senhor Jesus dá-lhes um exemplo do seu erro, a "corbã". Este termo significa “oferta ao Senhor”. Era uma espécie de doação prometida para a tesouraria do templo. Alguns filhos não estavam a cuidar dos seus pais, conforme o quarto mandamento dizia, porque tinham prometido a "corbã" ao Senhor. Além disso, os escribas e fariseus, sabendo da "corbã", não permitiam que o filho renegasse o seu voto, mesmo que os pais estivessem na miséria. Jesus denunciou esta hipocrisia mascarada de feito espiritual. Eles estavam a substituir a lei de Deus pelas leis humanas. Mais tarde, Paulo escreve: “Se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel.” (1Tm 5:8).

A seguir, Jesus vai explicar que a contaminação espiritual não era um problema exterior de lavagem de mãos, mas um problema de coração. A contaminação espiritual não está fora, está dentro. O mal não vem de fora, o mal está no nosso coração contaminado. Muitos filósofos e pensadores defendem que o homem nasce bom e que são as condições à sua volta que o estragam. É mentira. Nascemos com o coração apodrecido pelo pecado. Os judeus centravam a sua espiritualidade naquilo que comiam, naquilo que faziam ou não faziam. Jesus vem esclarecer que a fonte de toda a contaminação espiritual é interior e vem do nosso coração.

Jesus nomeia alguns pecados que brotam do coração humano nos v. 21-22. Começa tudo com os maus pensamentos. Todo o acto pecaminoso externo começa por um acto interno de decisão. A má acção exterior tem origem num mau pensamento interior. O remédio não é o aperfeiçoamento do velho coração, é um novo coração (Ez 36:26-27). Precisamos da ajuda de Deus para recebermos um novo coração e para vivermos em santidade e pureza espiritual. Isso não acontece por lavar ou não lavar as mãos, por aquilo que se come ou não se come, ou por aquilo que se toca ou não se toca, porque a contaminação é inerente à existência. Conforme alegou Ryle, “cada homem traz, dentro de si o manancial da sua própria iniquidade”

É mais fácil lavar as mãos do que ter um coração limpo. As religiões procuram limpar as mãos, Deus quer limpar e purificar o nosso coração. Cuidemos com a ajuda do Senhor do nosso coração, alimentando os nossos pensamentos com a Palavra de Deus e obedecendo aos seus ensinamentos.

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito recto” (Sl 51:10). 

 

quarta-feira, julho 03, 2024

Dizer-se cristão sem ser

"Não há nada mais insultuoso ao santo Nome de Deus do que professá-Lo com os teus lábios e negá-Lo com a tua vida." 

- Martyn Lloyd-Jones.


segunda-feira, junho 24, 2024

O funeral evangélico

"O facto é que Cristo ressuscitou mesmo dentre os mortos e se tornou o primeiro entre os milhões que um dia voltarão a viver!" - 1Coríntios 15:20 [versão O Livro]

Um amigo meu foi a um funeral evangélico na nossa igreja e disse-me no final, num certo tom jocoso, que as palavras do pregador foram tão boas, que até dava vontade de morrer para as ouvir. Só que os mortos que precisam ouvir os pregadores são os que querem viver. A alegria da vida eterna pertence aos que recebem Jesus como seu salvador e Senhor. 

A verdade é que a maior parte dos funerais evangélicos são diferentes. Diferentes para melhor. Canta-se, ora-se a Deus, anuncia-se a Palavra de Deus, há um ambiente solene, mas cheio de esperança. Recorda-se 
a vida do que morreu, mas principalmente a vida daquele que venceu a morte - Jesus Cristo. Um funeral evangélico não se centra tanto no defunto, mas naquele que destronou a morte, o mal e o pecado. 

No funeral evangélico há um misto de tristeza e alegria. Tristeza pela partida do ente querido e alegria por sabermos que um dia voltaremos a estar com o cristão que morreu. Temos a certeza que, assim como Cristo ressuscitou de entre os mortos, nós também voltaremos a viver. A morte para o cristão não é o fim, é o princípio da nova realidade da eternidade com Deus. Isto é verdade porque Cristo de facto ressuscitou.

segunda-feira, junho 03, 2024

Seguros nas mãos de Deus

"Ser salvo pela graça supõe que Deus tomou em suas próprias mãos a salvação das nossas almas; e com certeza estamos mais seguros nas mãos de Deus do que nas nossas." 

- John Bunyan

sexta-feira, maio 31, 2024

Marcas da graça


O último capítulo da Carta de Paulo aos Gálatas pode ser dividido em três partes. A primeira parte fala de um cristão que é “surpreendido pelo pecado”. A ideia do texto é essa. O pecado é algo que apanha o crente. É um percalço. O cristão que anda dependente do Espírito consegue resistir ao pecado, mas isso não significa que nunca mais peque (1João 1:8,10). Quando um cristão cai, um dos deveres da igreja, particularmente dos líderes, é ajudar essa pessoa a levantar-se. Nesse processo, os líderes não devem ter um sentimento de superioridade, mas de amor, mansidão e humildade. Têm a consciência que também podem cair. Para acontecer a restauração, a pessoa que falhou tem que admitir o pecado, estar arrependida e reconhecer autoridade de quem a está a encaminhar. 

Em Gálatas 6:2 lemos que devemos levar as cargas uns dos outros, mas no v.5 vemos que cada um deve levar a sua própria carga. Haverá contradição? Claro que não. A palavra original para cargas no v.2 é baros e a do v.5 é fortion. A palavra baros significa "um peso pesado", difícil de transportar sozinho, enquanto fortion refere-se a coisas que cada um pode levar por si. A partilha de cargas pesadas deve ser uma constante na vida da Igreja. Por outro lado, cada cristão é responsável pela sua própria conduta e por cumprir com as suas obrigações pessoais. 

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Na segunda parte, Paulo vai falar de questões práticas e usa a Lei da Semeadura: “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6:7). Muitos abusos têm sido feitos pela má leitura do verso 6 que fala em repartir os bens com quem que o instruiu. É mais do que dar dinheiro, é partilhar benefícios materiais e espirituais. Se é um erro grave exigir dinheiro aos irmãos que nos ensinam a Palavra de Deus, mas também está errado não abençoar aqueles que nos ministram a Palavra.

A Lei da semeadura relaciona-se com Deus. Ninguém zomba de Deus! Se alguém pensa que Deus está indiferente a quem vive no pecado ou ao que demonstra ingratidão, está muito enganado. Semear na carne é viver para a satisfação dos desejos e prazeres humanos. É investir no que se vê, sem pensar na eternidade. O resultado disso é podridão espiritual e morte eterna. Por outro lado, semear no Espírito é investir no Reino de Deus. É depender de Deus, dando ouvidos à Sua Palavra e colocando-a em prática. A colheita dessa caminhada é a vida eterna, não que essa vida seja uma conquista do cristão obediente, mas é o resultado final de quem tem e anda no Espírito. Esta segunda secção termina com um incentivo para não desistirmos de fazer o bem a todos e muito especialmente aos da família da fé (v.9-10). Fazemos o bem não para ganhar a salvação, mas porque já estamos justificados pela graça e bondade de Deus.

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Na terceira parte, é o próprio Apóstolo que escreve e com “grandes letras” (v.11). Era normal ditar a carta a um escriba, mas nesta parte final, Paulo decide escrever com a sua própria mão. O destaque das letras seria para vincar da conclusão final e também para evitar cópias falsificadas de falsos obreiros que se faziam passar pelos Apóstolos. Os judaizantes estavam a obrigar os novos convertidos que não eram judeus a se circuncidarem. Gloriavam-se disso como se esse ritual os fizesse melhores. O Pr. Manuel Alexandre Júnior escreveu que “O cristianismo não é uma religião de cerimónias externas, mas sim algo interior e espiritual, do coração." Paulo só tinha uma coisa que se gloriava, era a cruz de Cristo. Na cruz foram desfeitos todos os rituais e preceitos religiosos. Para Deus não importa se a pessoa é religiosa ou se não tem religião. O que conta é se é uma nova criatura (2Co 5:17 5). A cruz de Cristo era o centro da mensagem e da vida de Paulo. Sigamos o seu exemplo.

Antes da bênção final, Paulo dá um testemunho pessoal: “ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus” (v.17). Pode surpreender alguns, mas Paulo tinha muitas tatuagens. Não eram desenhos coloridos feitos por um tatuador, mas cicatrizes feitas pelas varas, chicotes e pedras de judeus e romanos que lhe rasgaram e marcaram o corpo. Eram marcas da graça. Marcas físicas e emocionais dos muitos sofrimentos que passou por causa da fé em Cristo.

O apóstolo conclui como começou: com a graça de Deus. A temática da graça permeia toda esta Carta (1:3,6,15; 2:9; 2:21; 5:4; 6:18). A nossa vida está relacionada desde o princípio até ao fim com a maravilhosa graça divina. Nascemos, somos salvos, santificados e seremos glorificados, por causa da graça divina. Hoje é o dia de deixar de confiar na religião e aceitar a maravilhosa graça de Deus manifesta em Cristo. Somente o Evangelho de Jesus Cristo liberta! São boas novas! As melhores.