sexta-feira, maio 31, 2024

Marcas da graça


O último capítulo da Carta de Paulo aos Gálatas pode ser dividido em três partes. A primeira parte fala de um cristão que é “surpreendido pelo pecado”. A ideia do texto é essa. O pecado é algo que apanha o crente. É um percalço. O cristão que anda dependente do Espírito consegue resistir ao pecado, mas isso não significa que nunca mais peque (1João 1:8,10). Quando um cristão cai, um dos deveres da igreja, particularmente dos líderes, é ajudar essa pessoa a levantar-se. Nesse processo, os líderes não devem ter um sentimento de superioridade, mas de amor, mansidão e humildade. Têm a consciência que também podem cair. Para acontecer a restauração, a pessoa que falhou tem que admitir o pecado, estar arrependida e reconhecer autoridade de quem a está a encaminhar. 

Em Gálatas 6:2 lemos que devemos levar as cargas uns dos outros, mas no v.5 vemos que cada um deve levar a sua própria carga. Haverá contradição? Claro que não. A palavra original para cargas no v.2 é baros e a do v.5 é fortion. A palavra baros significa "um peso pesado", difícil de transportar sozinho, enquanto fortion refere-se a coisas que cada um pode levar por si. A partilha de cargas pesadas deve ser uma constante na vida da Igreja. Por outro lado, cada cristão é responsável pela sua própria conduta e por cumprir com as suas obrigações pessoais. 

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Na segunda parte, Paulo vai falar de questões práticas e usa a Lei da Semeadura: “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6:7). Muitos abusos têm sido feitos pela má leitura do verso 6 que fala em repartir os bens com quem que o instruiu. É mais do que dar dinheiro, é partilhar benefícios materiais e espirituais. Se é um erro grave exigir dinheiro aos irmãos que nos ensinam a Palavra de Deus, mas também está errado não abençoar aqueles que nos ministram a Palavra.

A Lei da semeadura relaciona-se com Deus. Ninguém zomba de Deus! Se alguém pensa que Deus está indiferente a quem vive no pecado ou ao que demonstra ingratidão, está muito enganado. Semear na carne é viver para a satisfação dos desejos e prazeres humanos. É investir no que se vê, sem pensar na eternidade. O resultado disso é podridão espiritual e morte eterna. Por outro lado, semear no Espírito é investir no Reino de Deus. É depender de Deus, dando ouvidos à Sua Palavra e colocando-a em prática. A colheita dessa caminhada é a vida eterna, não que essa vida seja uma conquista do cristão obediente, mas é o resultado final de quem tem e anda no Espírito. Esta segunda secção termina com um incentivo para não desistirmos de fazer o bem a todos e muito especialmente aos da família da fé (v.9-10). Fazemos o bem não para ganhar a salvação, mas porque já estamos justificados pela graça e bondade de Deus.

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Na terceira parte, é o próprio Apóstolo que escreve e com “grandes letras” (v.11). Era normal ditar a carta a um escriba, mas nesta parte final, Paulo decide escrever com a sua própria mão. O destaque das letras seria para vincar da conclusão final e também para evitar cópias falsificadas de falsos obreiros que se faziam passar pelos Apóstolos. Os judaizantes estavam a obrigar os novos convertidos que não eram judeus a se circuncidarem. Gloriavam-se disso como se esse ritual os fizesse melhores. O Pr. Manuel Alexandre Júnior escreveu que “O cristianismo não é uma religião de cerimónias externas, mas sim algo interior e espiritual, do coração." Paulo só tinha uma coisa que se gloriava, era a cruz de Cristo. Na cruz foram desfeitos todos os rituais e preceitos religiosos. Para Deus não importa se a pessoa é religiosa ou se não tem religião. O que conta é se é uma nova criatura (2Co 5:17 5). A cruz de Cristo era o centro da mensagem e da vida de Paulo. Sigamos o seu exemplo.

Antes da bênção final, Paulo dá um testemunho pessoal: “ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus” (v.17). Pode surpreender alguns, mas Paulo tinha muitas tatuagens. Não eram desenhos coloridos feitos por um tatuador, mas cicatrizes feitas pelas varas, chicotes e pedras de judeus e romanos que lhe rasgaram e marcaram o corpo. Eram marcas da graça. Marcas físicas e emocionais dos muitos sofrimentos que passou por causa da fé em Cristo.

O apóstolo conclui como começou: com a graça de Deus. A temática da graça permeia toda esta Carta (1:3,6,15; 2:9; 2:21; 5:4; 6:18). A nossa vida está relacionada desde o princípio até ao fim com a maravilhosa graça divina. Nascemos, somos salvos, santificados e seremos glorificados, por causa da graça divina. Hoje é o dia de deixar de confiar na religião e aceitar a maravilhosa graça de Deus manifesta em Cristo. Somente o Evangelho de Jesus Cristo liberta! São boas novas! As melhores.


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