O nosso cão Beny Baboo

Temos um cão Cocker Spaniel, chamado Beny Baboo (numa singela homenagem a Charlie Brown e a Snoopy). Ofereci-o num Natal à minha querida esposa que ficou encantada. O cachorrinho era lindo e fofinho.
Mas decididamente o bicho iria marcar a nossa vida.

Nas primeiras noites o cachorro ganiu como um galo endiabrado. Mas eu já tinha lido muito e sabia que isso era normal. Mas quando começou a só uivar de dia, tive que comprar mais livros.
A maior parte da água que nós lhe dávamos, espalhava-a pela lavandaria e cozinha. A ração flutuava no rio de água. Se ele não concordava com a ementa, começava a devorar o armário da lavandaria, cadeiras ou outros móveis.

Compramos mais livros sobre educação de cães. Falamos com veterinários.

Rancoroso, começou a fazer xixi (e os restos da mobília) em tudo quanto era sítio. Quando algum dos nossos amigos chegava, imediatamente comentava acerca da fragrância nova no ar e o Beny quando via outras pessoas corria como um carro de fórmula Indy-cars à volta da sala, pulando de contentamento sobre os sofás e os móveis.

Comecei a correr com ele na praia, "talvez precisasse de desanuviar", pensava eu.

Um dia enquanto corria com ele, ouvi o chiar característico dos pneus de um carro a travar brutalmente. Olhei e vi o nosso Beny Baboo a ser engolido pelo carro. Corri aflitivamente em sua direcção e ele "milagrosamente" ficou apenas com uns arranhões e a coxear de uma perna.

Tinha a esperança interior que aquele percalço na vida dele o acalmasse. E acalmou. Trinta minutos.

Quase no dia seguinte, as corridas (na sala) continuaram e os sofás brilhavam, cada vez mais lambuzados de baba pegajosa. Os nossos amigos (agora a visitarem menos a nossa casa) diziam que ele era maluco, mas acho que não era bem isso que eles queriam dizer.

Lembro-me que quando fomos uma semana de férias, o Beny foi para casa da minha mãe. Ela jurou que nunca mais na vida queria um cão na casa dela. Ainda hoje pergunto-me porquê…

Certo dia, reparamos que a nossa pequena filha R. começou a espirrar muito. Como o Beny tem o pêlo grande, desconfiamos mais uma vez que a culpa era dele. Fomos a um médico especialista que, depois de uns exames, confirmou que ela de facto era alérgica a pêlo de cão.

Deus tinha ouvido as nossas orações, aliás como sempre ouve.

Tinhamos que arranjar uma casa nova para o nosso Beny, o melhor amigo do homem (dizem). Depois de muito pensar, repatriamos o cão (gratuitamente) para a minha querida sogra – existem sogras boas, ou talvez menos más, tal qual "as igrejas", mas quem conhece o Beny e o aceita para ficar em sua casa tem que ser mesmo uma boa pessoa – e o bicho lá ficou a roer-lhe as portas, a uivar e a fazer xixi na cama dela. Abençoados sogros.

Hoje, quando vou a casa dos meus sogros e ainda estou a estacionar o carro na rua e já o Beny começa a ladrar dentro do apartamento no primeiro andar dos meus sogros. Não sei bem se é de contentamento, se é de raiva, mas penso que ele gosta de me ver, senão não me lambuzava a cara toda quando me vê. Ele é bastante inteligente e certamente não se esquece dos bons momentos que passamos juntos. Os cães podem ser cães, mas não são burros.


Moral da história: Tratem bem a vossa sogra e pensem bem antes de comprar as prendas que vão oferecer no Natal!