terça-feira, junho 03, 2025

Casamento, divórcio e recasamento


Lemos no Evangelho segundo Marcos que Jesus está na Pereia, do lado leste do rio Jordão, onde João Baptista baptizava. O objectivo é ir a Jerusalém e lá ser morto. Faltam cerca de seis meses. Uma multidão continua a procurar Jesus e O Senhor faz aquilo que sempre fez no seu ministério terreno: ensinava. Ensinar sobre questões tão importantes como o casamento, divórcio e novo casamento.

Aproximaram-se de Jesus os fariseus para lhe fazerem uma pergunta: “É permitido ao homem divorciar-se da sua mulher?” (NVI). Jesus já tinha falado destes assuntos no Sermão do Monte e eles devem ter ficado muito perturbados. A pergunta deles era uma armadilha maldosa. João Baptista foi preso e morto por denunciar o pecado de adultério de Herodes Antipas. Desejavam que Jesus tivesse o mesmo fim.

Jesus responde fazendo outra pergunta: “O que Moisés disse na lei a respeito do divórcio?” Eles disseram que Moisés permitiu dar a carta de divórcio, aludindo a Deuteronómio 24:1. No tempo de Jesus existiam duas escolas judaicas que interpretavam a questão do divórcio: Hillel e Shammai. A escola de Hillel aceitava o divórcio por qualquer motivo, a de Shammai permitia o divórcio apenas por imoralidade sexual. É claro que aquela que predominava era a escola liberal de Hillel. O “vale tudo” sempre foi muito popular e atractivo para o ser humano caído.  

Jesus esclarece que Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza do coração humano. O divórcio existia por causa da condição espiritual pecaminosa do homem. Foi para regular e controlar o divórcio, não para o promover que a Lei previa o divórcio. Em Malaquias 2:16 lemos que: “O Senhor, Deus de Israel, odeia o divórcio.” A vontade do Senhor para o casamento não é e nunca foi o divórcio. Toda a quebra de relacionamento tem origem num coração endurecido pelo pecado. Os fariseus queriam falar sobre divórcio, mas Jesus vai realçar a importância do casamento.  

O Senhor vai à origem das coisas. Foi Deus que realizou literalmente o primeiro casamento no mundo, entre Adão e Eva (Gn 1:27; 2:24). O casamento implica deixar os pais para formar uma nova unidade. Já não são dois, mas uma só carne. “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”, conclui Jesus. O casamento é mais do que um ajuntamento amoroso, emocional, físico ou sexual, é algo espiritual – “Deus ajuntou”. Nenhuma pessoa tem o direito de separar o que Deus uniu. Enquanto um dos cônjuges for vivo, o casamento é uma aliança divina permanente.  

Hoje anda muita gente a brincar “ao casa descasa” mas essa não é a vontade de Deus. Jesus foi tão peremptório nesta matéria, que os discípulos, quando chegaram a casa tornaram a interrogá-lo. Jesus clarificou: “Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra adultera contra ela. E, se a mulher deixar a seu marido e casar com outro, adultera.” – Mc 10:11-12. Jesus esclarece aqui de forma inequívoca que se alguém casar novamente comete adultério.  

É verdade que em Mateus 19:9 Jesus falou de uma cláusula de excepção para o divórcio. Se um dos cônjuges for infiel sexualmente, e não existir perdão, o divórcio é permitido. Mas conforme alegou Russell Shedd “O divórcio jamais contou com a aprovação divina, a não ser como o menor entre dois males”. Também nessa passagem, Jesus reforça a impossibilidade do recasamento porque quem casa com o divorciado comete adultério (Mt 19:9b). Paulo escreveu “aos casados, mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher se não aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.” (1Co 7:10-11).  


4 princípios relativos ao casamento   

1º. Deus planeou o casamento entre um homem e uma mulher, para juntos glorificarem ao Senhor Deus e encherem a terra com a Sua glória. 1Co 10:31 – “Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” John Stott escreceu que “O significado mais elevado e o propósito mais sublime do casamento é o de manifestar a relação pactual entre Cristo e sua igreja.”  

2º. Um cristão deve namorar e casar com outra pessoa cristã e dentro da vontade do Senhor. “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?” 2Co 6:14-15. Um casamento com alguém que não ama e segue o Senhor pode transformar-se numa tragédia. Os viúvos estão livres para casar, mas “contanto que seja no Senhor” (1Co 7:39). O casamento deve ser segundo a vontade de Deus.

3º. O casamento é uma ligação maravilhosa mas também pode-se tornar o pior dos relacionamentos. Sozinho ninguém consegue manter o seu casamento. Precisa de Deus. É Ele que faz com que o casamento resista e permaneça. Casamento implica amor, perdão, diálogo, respeito mútuo, perder a razão muitas vezes. “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor … Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela.” (Ef 5:22;25).

4º. O casamento é um compromisso espiritual, moral e civil entre marido e mulher até à morte de um dos cônjuges. É uma ligação tão forte que só a morte a pode desintegrar. “A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.” – 1Co 7:39.  


É importante também referir que o adultério, o divórcio e os pecados sexuais separam as pessoas de Deus, mas não são pecados imperdoáveis. Jesus morreu por esses pecados. Em Deus há perdão e restauração. Cada caso é um caso e compete às lideranças das igrejas decidir a integração, lembrando sempre que cada um dará contas a Deus dos seus pecados.   

Paulo reconhece que a igreja era composta por pessoas com passados complicados, incluindo imoralidade sexual e adultério. Mas foram lavadas, santificadas e justificadas em Cristo. Isso mostra que a igreja é um lugar de restauração - 1Co 6:9-11. A graça restauradora de Deus é maior do que o maior pecador e os piores pecados - Rm 5:15,20; Sl 103:10-12.  

Que Deus ajude os casados a valorizarem o seu casamento. A orarem todos os dias um com o outro e um pelo outro. Que Deus guarde e abençoe os casamentos e as famílias.

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