terça-feira, fevereiro 27, 2024

Filho de Sara ou de Agar?


Os judaizantes não davam tréguas às igrejas da Galácia. Como Cristo não lhes bastava, obrigavam os novos cristãos a guardarem os rituais judaicos. Paulo estava perplexo com os crentes da Galácia por estavam a dar ouvidos a esses enganadores. Ainda hoje, muitos tentam oprimir as pessoas com leis e rituais. Usam força, coacção emocional, material e espiritual. O servo de Deus deixa o Espírito Santo convencer as pessoas e lidera pelo amor, serviço e exemplo.

Para explicar a liberdade que temos em Cristo, Paulo vai usar uma alegoria (Gl 4:21-31). É uma alegoria, não por ser uma história fictícia, mas porque é uma narrativa verdadeira que simboliza algumas verdades espirituais muito práticas e esclarecedoras. 

Abraão teve dois filhos, um de uma escrava chamada Agar e outro da sua esposa chamada Sara, que era livre. Deus tinha prometido que Abraão seria pai de uma grande nação. Só que Sara era estéril e os dois já eram muito velhos. Numa espécie de tentativa para “ajudar Deus”, Sara disse a Abraão para se deitar com a escrava Agar. Ela engravidou e assim nasceu Ismael. Mais tarde, no tempo determinado por Deus, Sara também engravidou e nasceu Isaque, o filho prometido. 
 
A primeira ligação que Paulo faz entre Agar e Sara, é que elas representam duas Alianças. Agar simboliza a Antiga Aliança e Sara a Nova Aliança. Assim como Agar era escrava, a Antiga Aliança também estava presa a leis e rituais. A Nova Aliança, representada pela Sara livre, está ligada à liberdade de que podemos desfrutar através de Jesus Cristo. 
 
Os dois filhos também simbolizam aspectos muito importantes. O filho de Agar, Ismael, é o filho da carne. Nasceu de modo natural, de uma mulher escrava, de uma relação fora do casamento. É o resultado dos desejos egoístas e da precipitação carnal. Isaque, por outro lado, é o filho da promessa. Nasceu de uma mulher livre, segundo a vontade de Deus e de modo sobrenatural.
 
John MacArthur disse que “a concepção de Ismael representa a maneira do homem, o caminho da carne, já a de Isaque representa a maneira de Deus, o caminho da promessa. A primeira é semelhante ao caminho do auto-esforço religioso e à justiça das obras; a segunda é semelhante ao caminho da fé e à justiça imputada por Deus. Um é o caminho do legalismo, o outro o caminho da graça.”
 
A seguir, Paulo vai explicar que Agar simboliza também o Monte Sinai, que corresponde à cidade de Jerusalém. Isso era verdade por três razões. A primeira razão é porque a lei estava ligada ao Sinai, uma vez que foi dada por Deus nesse Monte, a Moisés e a Israel. A segunda razão, é porque em Jerusalém naqueles dias não existia liberdade total. Jerusalém estava cativa e amordaçada pelo império romano. A terceira razão, que é a pior escravidão de todas, estava relacionada com o fanatismo e o legalismo religioso dos judeus na "Cidade santa". Foi essa escravidão cega da religião que impediu que muitos Escribas, Sacerdotes, Fariseus e muitos judeus aceitassem o Messias Jesus, que veio para os salvar. 
 
Mas se Agar simboliza a Jerusalém terrena que está escravizada, Sara simboliza a Jerusalém livre, que é de cima, a Jerusalém celestial. A Jerusalém de cima, Paulo diz ser a nossa “cidade mãe” (Gl 4:26). Aqui “mãe” é uma metáfora para mostrar que a nossa verdadeira cidadania e segurança está no céu, com Deus. Entramos nessa Jerusalém celestial, não pela Lei, nem pelas boas obras ou rituais religiosos, mas somente pela graça e pelo sangue redentor de Jesus 
 
Paulo termina a alegoria dizendo que nós, os crentes em Jesus, "somos filhos da promessa, como Isaque” (v. 28). Ismael é o filho da carne, Isaque é o filho da fé. Isaque simboliza o novo pacto, a Aliança da graça, que tem origem em Deus e que trouxe a salvação e a libertação por Jesus Cristo. As pessoas que tentam conquistar Deus e a Sua salvação na força da carne, com boas obras e esforços humanos estão escravizados. A velha Aliança é a aliança das obras e baseia-se no esforço humano. A nova Aliança é a aliança da fé e fundamenta-se na obra exclusiva de Cristo e na graça de Deus. 
 
Se Agar simboliza o esforço humano que aprisiona a pessoa nos seus pecados e se Sara prenuncia a graça de Deus que oferece perdão e liberdade espiritual, fica a pergunta: És filho de Sara ou de Agar? 
Que possamos fazer nossas as palavras de Paulo aos Gálatas 4:31: “Sou filho, não da escrava, mas da livre!” Tudo isso acontece, não através de ritos religiosos, mas somente pela graça de Deus e pelos méritos de Jesus, quando cremos nele.

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