terça-feira, agosto 02, 2022

Perfeito juízo

Depois de uma viagem atribulada de barco no Mar da Galileia, Jesus chegou à margem da província dos gadarenos ou gerasenos. No capítulo 4 Jesus acalmou uma tempestade exterior, neste capítulo 5 de Marcos, Jesus vai acalmar uma tempestade interior. Quando Jesus saiu do barco, um homem endemoninhado correu desesperado ao seu encontro. 

Existem dois erros comuns no que concerne a demónios: por um lado atribuir ao diabo todas as coisas estranhas, por outro, negar que há manifestações demoníacas. Os demónios existem e estão activos, mas nem toda a anormalidade é demoníaca. Há que distinguir entre possessão e transtornos mentais. Os doentes mentais melhoram com tratamento psiquiátrico e medicamentoso, os possessos não. Obviamente que o diabo também usa estas doenças para agitar e perturbar as vidas.

A vida daquele homem possesso era terrível. Não tinha sossego, deambulava sem paragem, sem sono, andava aos gritos, feria-se com pedras, todos se afastavam dele. Morava no cemitério, vivia como um animal acorrentado, com correntes que ele próprio rompia. Era como um pobre animal que “ninguém podia amansar” (Mc 5:4). É isto que o diabo faz às pessoas, inquieta, violenta e atormenta.

Quando Jesus perguntou o nome daqueles demónios, a resposta foi "Legião". Uma Legião era um regimento do exército romano composto por seis mil soldados. Não era só um espírito que estava a controlar aquele homem, eram muitos. Estes espíritos não queriam sair daquela região e pediram para entrar nuns porcos que pastavam ali no monte. Jesus autorizou e, naquele instante, mais de dois mil porcos precipitaram-se no mar, morrendo afogados. Jesus tem todo o poder e autoridade! 

A matança dos porcos, embora parecendo um pouco cruel para os animais e donos, foi uma das evidências do milagre. O sacrifício de animais e bens justifica-se quando vidas humanas estão em jogo. R. C. Sproul refere que “Jesus não estava exibindo uma falta de compaixão; Ele estava exercendo compaixão adequada. Ele estava disposto a sacrificar dois mil porcos, por mais valiosos que fossem, para resgatar o homem possuído pelos demónios.”

Ao verem aquela matança, os que apascentavam os porcos fugiram e contaram o que tinha acontecido. Muitos foram ter com Jesus e viram que aquele que fora endemoninhado estava sentado, em vez de irrequieto; vestido, em vez de nu; em perfeito juízo, em vez de alienado. Sanidade perfeita a todos os níveis. Só que a matança dos porcos podia trazer má fama ao negócio e os gadarenos pediram a Jesus para sair dali. Os demónios pediram para ficar naquele território, os habitantes pediram para Jesus sair dali. Jesus tinha expulsado os demónios e agora estava a ser expulso. É triste fazermos bem e recebermos mal, mas lembremo-nos que isso já aconteceu com Jesus.

A história termina de forma interessante. O ex-possesso pediu para acompanhar Jesus, mas o Mestre não autorizou e disse-lhe: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti.” – v.19. Este homem sarado seria uma testemunha viva de Jesus e daquilo que Cristo pode fazer. Este homem seria a primeira semente naquela região gentílica.

Não há casos difíceis ou perdidos para Jesus. Por pior que seja a situação espiritual de uma pessoa, em Cristo há salvação e libertação. Jesus reforça aqui também que o grande testemunho do cristão começa em casa. O primeiro e grande chamado missionário do cristão é a sua família. A salvação, uma igreja, um avivamento começa sempre com o bom testemunho de uma única pessoa convertida.

Sem comentários: