quarta-feira, dezembro 02, 2020

Quatro centelhas para bem servir


O que é servir a Deus? Será o serviço a Deus uma coisa exclusiva de líderes religiosos? Servir ao Senhor implica envolver-se no trabalho da igreja? Porque é que há tantos cristãos que não assumem um compromisso efectivo na obra de Deus? Não tenho todas as respostas a estas questões, mas penso que a Bíblia lança boas luzes que nos ajudam a reflectir no que concerne ao serviço. O Salmo 100 é um hino de louvor ao Senhor e um incentivo ao serviço. Proponho quatro centelhas para bem servir o Senhor. 

O salmista lança a primeira chispa logo no início do Salmo: “Celebrai com júbilo ao Senhor… servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a ele com canto.” Os louvores e os cânticos são formas de serviço a Deus. O alvo do louvor e da adoração é exclusivo: ao Senhor Deus. E, se já sabemos que Deus é Deus (v. 3) não nos devia custar servi-lo. Penso que a falta de serviço no crente deriva de uma ignorância ontológica de Deus. Muitas pessoas não servem a Deus porque não O conhecem. Falta-lhes teologia. Porque ainda não sabem realmente quem Deus é, não servem. Quanto mais compreendemos que Deus é bom, misericordioso, santo, justo, mais nos apetece louvá-lo e servi-lo. Servimos porque Deus é Senhor!

Um segundo lampejo luminoso que sobressai deste Salmo é que o servo reconhece que tudo vem do seu Senhor. Foi Deus, não nós, que nos fez um povo seu. Foi Deus quem nos escolheu, salvou e nos fez ovelhas do seu pasto (v.3b). Não servimos para ser salvos, servimos porque somos salvos. Max Lucado escreveu que algumas pessoas sentem-se “tão salvas” que nunca servem a Deus e outras pessoas servem na expectativa de serem salvas. São dois extremos equivocados. Ninguém é salvo por servir a Deus, somos salvos para O servir. Esta é uma das grandes diferenças entre um católico romano e um protestante. Não fazemos boas obras para tentar conquistar a salvação, é porque estamos salvos pela graça de Deus que O servimos com alegria.

A terceira centelha deste Salmo 100 é que o servo bom é o que tem um coração grato (v. 4). Os ingratos nunca querem servir a Deus. A nossa independência, egoísmo e preguiça complicam muito o serviço. Aquele que é servo, serve. Servimos a Deus nos cultos da igreja, mas também fora deles. Servimos quando pregamos, louvamos, oramos, testemunhamos e exercitamos os dons que Deus nos tem dado; mas também servimos a Deus quando reconhecemos falhas, quando apoiamos os nossos familiares, quando visitamos, quando ajudamos os nossos colegas de escola e trabalho, quando abençoamos e incentivamos aqueles que nos rodeiam.

Por último, o serviço é o resultado do amor e da misericórdia de Deus na nossa vida (v.5). O serviço para Deus, mais do que ter um sentido utilitário ou calculista, é um fruto amoroso. Servimos porque amamos a Deus e aos nossos irmãos. John Stott asseverou que o amor, a verdade, os dons e o serviço andam juntos. E acrescentou, “Amar é servir. Restam-nos, portanto, estes quatro aspectos da vida cristã que formam um anel ou um círculo que não pode ser quebrado: amor, verdade, dons e serviço. Pois o amor resulta em serviço, o qual, por sua vez, usa os dons, dentre os quais o maior é o ensino da verdade, mas a verdade, por sua vez, deve ser transmitida em amor. Cada um envolve os outros e, por onde quer que comecemos, todos eles são usados. 'O maior deles, porém, é o amor' (1 Cor. 13:13)." Quem ama, serve.


Na famosa música de Bob Dylan “Gotta Serve Somebody”, ele canta que, “Você vai ter que servir a alguém. Pode ser o diabo ou pode ser o Senhor, mas você vai ter que servir a alguém”. Todos estamos a servir a alguém. A nós próprios, aos outros, ao diabo, ao Senhor. Todos são servos daquele a quem servem. Mas como podemos servir a Deus quando andamos tão ocupados e preenchidos? Como servir a Deus neste mundo pandémico?

Se você é salvo, pode servir! Sugiro que comece com pequenos passos. Orar é servir. Santifique a sua vida. Disponibilize-se quando surgirem oportunidades. Não faltam oportunidades de serviço dentro e fora das igrejas. Façamos cada um a nossa parte. Autenticidade e verdade no serviço são imprescindíveis (v. 5). Viver em pecado e depois pensar que se está a servir a um Deus santo, é puro auto-engano. P. T. Forsyth afirmou que "é possível ser muito activo no serviço de Cristo e ainda assim esquecer de amá-lo."

O Senhor, a igreja local, os líderes, os nossos familiares, colegas, vizinhos esperam e contam com o nosso serviço. Além da grande alegria que o serviço a Deus produz, existe a promessa que o Pai nos honrará, abençoará e recompensará: “Se alguém me serve, siga-me; e, onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará.” (João 12:26).

Como cristãos somos servos de Cristo. Sigamos o seu exemplo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20.28). Se o Homem perfeito escolheu a bacia e a toalha do serviço, que outro tipo de vida os servos de Deus podem ter?

Jorge Oliveira 
(Artigo publicado na edição nº 178 - Outubro-Dezembro 2020, na Revista Refrigério)

Sem comentários: