segunda-feira, julho 04, 2011

"Deus não acredita em nós?"

O estimado amigo Rui Miguel Duarte, levantou algumas questões relacionadas com o meu post "5 clichés de alguns evangélicos", nomeadamente no que se refere ao ponto 5 - “Deus acredita em nós!”. Em jeito de resposta, vou aqui dar alguns esclarecimentos do que eu penso.


Começo por dizer que não percebi muito bem onde é que a frase “Deus acredita em nós!”, aprova ou nega o Calvinismo, ou que apoia ou retira a responsabilidade humana. É um chavão que já ouvi e li várias vezes no meio evangélico e que descreve implicitamente o deus (e o tipo de fé) que as pessoas acreditam quando a proferem.

É um deus que não sabe todas as coisas, que não conhece plenamente o futuro e que está dependente das suas criaturas para realizar todos os seus intentos e acções. Retrata também um deus que parece estar "em suspenso", numa espécie de limbo divino, à espera das escolhas e das decisões que os homens vão tomar. Conhecendo eu muito pouco acerca de Deus, constato facilmente que o Deus que a Bíblia revela não tem nada a ver com essa pálida imagem desse pequeno deus.

Não querendo entrar aqui numa acesa discussão teológica e sem querer dar a palavra final no assunto, cito apenas 5 passagens bíblicas que reforçam o total conhecimento de Deus, o seu poder absoluto, e a sua acção soberana, independente do Homem, para a realização dos seus intentos finais:


"Mas o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz." (Salmos 115:3)

“Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó SENHOR, tudo conheces.” (Salmos 139:4)

"Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade."
(Isaías 46:9-10)

"Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta." (Jeremias 1:5)

"Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade." (Efésios 1:11)

Por causa destes e de outros textos bíblicos, acredito que a vontade soberana (secreta) de Deus sempre se cumprirá, independentemente do Homem querer ou não querer. É Deus que é totalmente livre, não o homem. Se a vontade final de Deus dependesse do homem, o Deus decisor seria o Homem e não O Senhor.

Acredito que Deus preserva, ordena e governa tudo o que Ele criou para a sua própria glória. Deus continua a controlar e a sustentar TODAS AS COISAS pela palavra do seu poder (Hebreus 1:3).

Gostava de referir também que creio que a soberania absoluta de Deus é perfeitamente compatível com a importância e a responsabilidade humana. Deus conhece antecipadamente todas as resoluções humanas, Deus é "perfeito em conhecimento" (Jó 37:16), mas o Homem é responsável pelas suas escolhas e decisões, que estão num certo sentido tolhidas pelo pecado, pela velha natureza e pelo diabo. O único Homem que tem realmente crédito diante de Deus é o seu Filho Unigénito: Jesus Cristo. Esse mesmo Jesus que não confiava nos homens "porque a todos conhecia" (João 2:24)


Sei que desacreditar a afirmação “Deus acredita em nós!” pode chocar os crescentes sectores humanistas da igreja evangélica, que colocam o Homem como o centro e fim de todas as coisas, e Deus como um servo do Homem. Mas, é a minha convicção que não é Deus que precisa acreditar no homem, antes, é o homem que precisa desesperadamente de crer e confiar em Deus.

Um abraço, amigo Rui.

3 comentários:

José Carlos disse...

Tudo o que dizes sobre Deus eu subscrevo: Que ele sabe todas as coisas e que o sabe antecipadamente é um facto claramente afirmado nas Escrituras.
Mas não subscrevo que para que Deus possa ser completamente livre o homem tenha (obrigatoriamente) de ver limitada a sua liberdade de escolha. Lá iríamos para o velho problema. Se Deus escolheu uns para salvação e outros para condenação para quê pregar o Evangelho? Se no final as coisas serão como Deus já decidiu para quês esforçar-me tanto na sua obra?
Bem as perguntas, deste teor, seriam mais que muitas.
É por isso que não aceito o calvinismo.

Jorge Oliveira disse...

Zé Carlos,
Mas onde é que a frase “Deus acredita em nós!”, suporta ou desaprova o Calvinismo?

Não é que eu não tenho a minha posição sobre o Calvinismo e já agora o Arminianismo, mas o que eu não entendo é onde é que o chavão "Deus acredita em nós" comprova ou nega o Calvinismo. O assunto realmente é deveras interessante, só que não é o tema do post.

:)
Um abraço

José Carlos disse...

O título nada tem a haver, eu comentei foi o desenvolvimento em consequência e algumas das tuas afirmações que podem levar ao dogma calvinista. Eu sou sempre cuidadosos em equilibrar o facto de que Deus sabe tudo antecipadamente(presciência) com a manutenção da liberdade de escolha do ser humano (livre arbítrio). Nunca é de mais acentuar este equilíbrio.
Abraço