sexta-feira, julho 23, 2010

Empresários do sagrado

Tratar uma igreja como se uma empresa fosse, para além de ser um insulto a Deus e à Igreja, é um sintoma de doença espiritual. O empresário do sagrado centraliza a sua obra em si próprio, em estratégias de crescimento, métodos organizacionais, objectivos de multiplicação, enfim números (dízimos!). Valoriza muito a imagem, o sucesso, os resultados. Para alcançar os seus objectivos e fazer a "máquina" funcionar, usa todos e tudo. Assistentes, cantores, músicos, membros e visitantes são subalternos e actores da sua agenda e organigrama eclesiástico.

Como agravante, os sacros empresários costumam envolver esta materialidade e mundanidade toda com uma capa de espiritualidade balofa. Transmitem a ideia que são líderes especiais, com capacidades sobrenaturais fora do vulgar (que de Deus não tem nada). Ensinam um misticismo vitorioso mas que é baseado no esforço pessoal e "no muito fazer".

C. S. Lewis disse que a recomendação feita a Pedro foi: "Apascenta as minhas ovelhas", e não "faça experiências com as minhas cobaias." Mas estes lideres produzem nos seus cultos uma panóplia de experiências e fabricações emocionais para fazer palpitar e animar as pobre almas dos pobres crentes. Transaccionam "espiritualidade", alegria e emoções, a troco de fartos dízimos e promessas de fé (dinheiro!).


A Igreja, contudo, não é uma empresa ou organização e nem sequer é uma instituição. A Igreja é um Organismo Vivo. Cristo é O Cabeça e os membros, os realmente nascidos de novo e salvos pela graça de Deus, são o seu Corpo. A única Pessoa que faz a Igreja crescer é O próprio Senhor, "e todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar" (Actos 2:47). O único Senhor da Igreja é Cristo.

O ambiente onde este Corpo vivo cresce é permeado de amor, graça, humildade, unidade e sem triunfalismos ufanos. Aos pastores e líderes, exige-se que revirem as suas mesas comerciais e que batam no seu peito, coberto de saco e cinza. E depois sim, apascentem o rebanho com temor e tremor a Deus.

"Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas." (João 21:17)

4 comentários:

rui miguel duarte disse...

Os cristãos assim fazem pior à causa de Cristo e do Evangelho do que um batalhão de ateus militantes do tipo Richard Dawkins.

Jorge Oliveira disse...

Estes comerciantes da fé são no fundo os revendedores do comércio diabólico:

"Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas."

(Ezequiel 28:16)

José Carlos disse...

Um texto excelente que subscrevo na totalidade. Se não fosse abuso gostaria de o ver publicado na página da igreja de Leça.
Boas férias

Jorge Oliveira disse...

Obrigado ZéCarlos.
Claro que autorizo que publiques o texto.

Abraço e boas férias.