Analisando o livro como romance (ou como livro para crianças, como o autor sugere que foi criado), reconheço que prende o leitor e parece que promete muito no início. Mas depois, com o avançar da narrativa, principalmente quando Young começa a fazer o panegírico apologético do seu falso deus, esparrama-se completamente por terra. Como peça literária é fraca, num estilo débil e pouco consistente. Na linhagem consumista e superficial de tantos outros Cabanistas que são editados todos os dias e que daqui a dez anos ninguém se vai lembrar de falar ou ler.
Se o analisarmos pelo ponto de vista espiritual, então a coisa ainda é pior. Para além dos muitos erros teológicos, a analogia que faz com a Trindade Divina chega a roçar o burlesco e o ridículo. Young desenha um Deus Pai, que por acaso é uma mãe gorda e negra, que frita ovos e bacon e que abraça incessantemente (na linhagem das “curas emocionais” que por aí propalam) o afligido Mack, o personagem principal. Foi precisamente esta caricatura divina, criada à imagem e experiência do autor, que porventura mais me chocou na obra. Um deus que é pequeno, humanizado, subserviente, superficial, lamechas, piadista, pueril e relativista, que, infelizmente, tantos cristãos deste século seguem e adoram como sendo O verdadeiro Deus. Não é preciso ser-se teólogo para perceber que O Deus verdadeiro não cabe nessa pequena Cabana.
O desfecho é previsível e o livro remata, à boa maneira evangélica, com um lamentável apelo final. Comprar mais livros, muitos livros! Passar "a mensagem" e divulgar em todos os lugares o livro que "oferece uma das visões mais pungentes de Deus e de como ele se relaciona com a humanidade." Certos que o filme já está agendado para encher ainda mais os bolsos do construtor da Cabana dourada, virá com certeza a segunda e a terceira Cabana para entreter os seus fervorosos moradores. Parafraseando o profeta, "O Altíssimo não habita nestas Cabanas feitas por mãos de homens." Ainda bem.
17 comentários:
O Livro chegou por aí e já está causando polemica...
Muito bom o seu ponto de vista, parabéns!
A Paz!
Não li "A Cabana". Talvez devesse. Pelo que vi no video, há muitas questões teológicas controversas. Sei que não devemos subestimar a doutrina. E devemos apontar erros que vemos. Mas, não será igualmente errado superestimar a teologia? Será que alguém neste mundo tem a teologia correta? E o que será de quem tem a teologia errada? Estará perdido? Meu foco, ultimamente, é no amor que devemos ter por Deus, pela criação e pelo próximo. Não me impressionam supostos erros teológicos, mas, a insinceridade e malicia, sim.
O que você acha?
Olá!
Não concordo com o que disse, pois gostei muito do livro.
Confesso que li A Cabana com certa desconfiança, mas me surpreendeu. De fato Deus não é pequeno, mas se fez pequeno para entender os nossos sofrimentos e nos salvar. É bom como romance, mas gostei mais ainda da visão exposta com relação aos relacionamentos. Deus quer os adoradores e não a adoração. Ele quer nos ter como filhos que o amam. O nosso amor que é importante para Ele. O amor verdadeiro, que leva à servidão voluntária e à obediência. Foi isso que Deus falou comigo através da experiência de Mack e que já vinha falando há algum tempo em minhas próprias experiências com ele.
Fica na paz ;)
Rodrigo,
Agradeço o comentário
Haja sensatez e respeito nesse debate.
Um abraço
Olá Rubinho.
Percebo o seu ponto de vista. Mas faço a pergunta ao contrário: não há tanta gente sincera, que até não faz mal ao seu próximo e não tem malícia mas que está errada e vive independente do verdadeiro Deus?
Com relação à teologia, C. S. Lewis disse que “não dar atenção à teologia não significa não ter ideias a respeito de Deus. Significa ter ideias erradas, más, confusas e superadas.” Claro que a teologia nunca pode ser um fim em si mesma, mas receio mais por alguém que despreza as Escrituras do que aquelas que lêem e praticam a Palavra de Deus.
Considero que existe boa e má teologia, e que a correcta teologia sempre nos aproxima de Deus e das pessoas. Como afirmou Bruce Milne: “Se a doutrina (teologia) não levar a vidas santas, cheias de amor, amadurecidas, então algo está errado.”
Uma das grandes qualidades de uma correcta teologia é que ela ajuda-nos a separar as águas. Ajuda a desmontar “Cabanas” e a construir o Reino de Deus.
Um abraço
Olá Cintia,
Agradeço o seu comentário e claro que respeito a boa impressão e experiência que teve acerca do livro.
Embora não disponha de dados (terá que se fazer uma sondagem... rsrs) penso que a maior parte dos crentes evangélicos gostaram e gostarão de ler a Cabana. Não me espanta isso, conhecendo como conheço a realidade de muitas igrejas evangélicas.
Mas um dos problemas das "experiências com Deus" (que o livro tanto cultua) é precisamente esse: viver a vida cristã perseguindo "experiências com Deus" dentro da Cabana, podendo dar-se o caso de nos esquecermos do próprio Deus e da própria vida fora da Cabana.
Porventura não será o seu caso, mas certamente deve saber o que estou a falar.
Continue na graça e na paz de Deus.
Trindade ? Três Deuses em paralelo ? Não acredito !
Apesar de partilhar e concordar em algumas coisas contigo, não concordo em absoluto.
1º. porque o livro nunca foi um tratado de teologia e nem escrito para quem sabe e estuda teologia. Aí concordo que o autor possa ter metido os pés pelas mãos ao misturar doutrinas e acabar por se embrulhar na teologia e em explicações.
2º.- O autor também não é nenhum escritor por vocação. Ele escreveu o livro para a familia, que por gostar, resolveu pedir cópias para amigos e acabou por ter a projecção que teve.
3º.- Mais do que procurar ver como ele representou Deus no livro, acho que importa reter sim, a mensagem do livro (algo pessoal do proprio autor). De que Deus está do nosso lado (a cozinheira), que JEsus é o nosso amigo mais chegado que um irmão e que o Espirito Santo é o nosso consolador e ajudante, no nosso eu em constante transformação.
Quando li o livro, li-o de forma livre, sem teologias metidas pelo meio.
E não me chocou a maneira como o autor representou Deus.
Se olharmos para o antigo Testamento, e para uma cultura como a judaica, chegar uma pessoa como Jesus, a dizer-se Filho de Deus, e sofrer na cruz por nós, seria um verdadeiro absurdo e blasfémia, como afinal o consideraram.
Acho que importa reter o que de bom o livro "também" tem.
Temos muitos outros autores, como C. S.Lewis por exemplo, que escreveu livros pararelos ao evangelho, com personagens imaginários e estranhos e que hoje, é muito bem visto.
Não podemos nunca pensar que podemos fechar Deus num quadrado e limitá-Lo.
Deus não habita nem cabanas e nem templos feitos pelo homem, isso eu concordo.
Ele habita todo o espaço e Universo, mas também se fez pequeno para se tornar Homem.
E habita acima de tudo, todo o coração que O busca ardentemente.
No entanto, e como sabes, acho a tua opinião válida e importante, para nos tirar o lado cor de rosa das coisas, como sempre tão bem o fazes, meu amigo Jorge!
Deus te abençoe muito!
Olá Vilma,
Agradeço a partilha da tua opinião. Percebo que gostaste do livro e que até tenhas sido uma das primeiras pessoas a levantar a mão no apelo final (eheheh), mas repara que não são meros gostos ou experiências pessoais que estão em causa aqui.
O que se trata é a personificação errada que o autor faz da Trindade Divina. O Deus da Bíblia não é aquilo, quer na sua essência santa e elevada do seu carácter, revelado pelas Escrituras, quer no seu aspecto relacional com a humanidade. O amor, o perdão, a santidade e o poder de Deus não são frívolos ou mesquinhos.
Aliás, escrever ou descrever Deus, é sempre um terreno perigoso. Porque é que será que Moisés nem sequer ousava olhar para Deus? Falar de Deus ficará sempre muito aquém daquilo que Ele é. Brenning Manning disse que "nenhum pensamento pode contê-lo, nenhuma palavra pode expressá-lo; Ele está além de qualquer coisa que possamos intelectualizar ou imaginar”, Deus é nas palavras de Tomás Aquino, O "Tamquam ignotum" (Completamente incognoscível).
Portanto, o que está em causa não é apenas um romancezinho da moda, antes as crenças da moda com relação a Deus.
Quer queiras quer não, Young ao inventar aquela história em que um dos personagens é um deus cor-de-rosa, está a fazer teologia. Da má.
Deus te abençoe.
Jorge, voltando...
Falar por parábolas é lindo e perigoso, pois o ouvinte pode levar ao pé da letra...
Falar de Deus também - lindo e perigoso - pois podemos fazer uma caricatura de Deus, o que não ajudará em nada o ouvinte...
O que fazer? Se tomarmos Aquino ao pé da letra desistimos de "estudar" Deus, não é?
Todo ponto de vista é a vista de um ponto: se o escritor tem problemas, o pregador do video também. Será realmente necessário escolher um deles?
À vossa consideração.
Runinho,
Uma coisa é uma boa parábola outra coisa é uma caricatura mal desenhada. Penso que são diferentes.
Muito bem!! Surpreendi-me ao chegar aqui e ler o post, pois justamente ontem escrevi sobre ele (o livro), também com impressões não-tão-boas. Escrito para comover (pois isso é rentável), ele quase convence. Não pecasse pelos excessos.
Enfim, o livro não é de todo ruim - apenas alguns de seus conceitos - e Paulo nos admoesta: "Examinai tudo. Retende o bem". Admirável a sintonia. Amplexo.
Estranho é o entusiasmo com que alguns dos nossos irmãos da "praça" propagam o livro...!
O que mais me preocupa é os milhões de pessoas que estão lendo este best seller e que terão os seus conceitos teológicos "formados" e influenciados, quando não reformulados por esta estranha forma de apresentar Deus...
Olá Dr. Costa,
De facto a sintonia foi admirável. Li o livro no Natal de 2008 e só nesta terça-feira entendi ser oportuno dar a minha opinião, principalmente por causa da publicação em Portugal e também por outras razões.
Um abraço.
Olá Shalom!
Respeito as opiniões contrárias à minha.
Mas partilho das preocupações que expuseste, como penso que ficou patente no meu texto.
Forte abraço,
Paz!
Jorge, como sabes já li o livro. Não o defendo nem ataco.
Infelizmente do local onde escrevo não tenho possibilidade de ver/ouvir o vídeo em anexo a este post.
O autor fala de um modo belo e optimista de uma série de assuntos com que a maioria das pessoas se costuma deparar quando pensa em Deus. Muitas vezes esses assuntos afastam as pessoas de uma comunhão com Deus mais plena.
O que ele tenta fazer é uma desconstrução dessas dúvidas, apontando sempre para a necessidade de intimidade com Deus e dependência exclusiva d'Ele.
Percebo que é esse Deus que faz confusão a quem considera a Bíblia como a quarta pessoa da Trindade. Isto, quando nunca Deus se referiu à Bíblia e as pessoas a tomam hereticamente como santa.
As questões teológicas são, por isso, difíceis de avaliar e, para mim, de somenos importância. Tudo o que ele diz parece ter lógica, principalmente dentro de uma teologia mais moderna em que Deus é só Amor.
Para mim conta a beleza da história, mesmo se literariamente esteja muito muito fraca.
Acho cada vez mais bizarra a apropriação que as pessoas fazem de Deus, sabendo exactamente quem está errado ou certo. Enfim.
1 abraço
Olá João, reproduzo aqui a pequena nota que escrevi no teu blogue:
Não creio que a Bíblia seja a quarta pessoa da Trindade (nunca o afirmei), acredito sim que ela, não apenas contém, mas é a Palavra de Deus.
Para mim a Bíblia é o meio mais fiável (senão o único) de se perceber quem é o verdadeiro Deus. Não pode haver uma apropriação pessoal ou particular de Deus, porque senão é subjectiva e nada mais é que um ídolo feito à imagem dessa pessoa. Um falso deus, portanto.
A Bíblia é a melhor fonte objectiva para revelar quem Deus é. E não é preciso ser-se teólogo para perceber que "O Deus da Bíblia" é uma Pessoa algo diferente, quer no seu santo, justo e elevado carácter, quer no modo como lida com o ser humano, daquela caracterizada pelo autor da Cabana.
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