A família dos Palhaços

Estávamos (como quase sempre) atrasados para o culto da igreja. As minhas filhas remexiam-se truculentamente uma com a outra no banco de trás do carro. No meio daquela confusão, a minha mãe, tentava segurar o bolo de aniversário da minha esposa, coberto de chantily. “Se não se portam bem, faço como fazem os palhaços e atiro-vos com o bolo à cara!” ameaçou a minha trocista mãe. Mais cócegas, gritinhos e queixumes das miúdas. “Olhem que eu mando-vos mesmo com o bolo”. Elas lá se calavam mais um minuto.
Chegámos à igreja. Na ânsia de sair rápido do carro, por entre apitos de carros, a minha mãe atrapalhou-se e tropeçou. Numa derradeira tentativa de salvar o bolo, enfiou o nariz e o casaco de couro no chantily do bolo. Gargalhadas. Atarantada, a minha mãe passa rapidamente o que restava do bolo para a minha esposa e entra furiosamente no salão contíguo ao templo da igreja. Com a cara enfeitada pelo chantily depara-se boquiaberta com um solene velório de uma irmã que tinha morrido no dia anterior. “Boa tarde” disse ela baixinho para os familiares pasmados da falecida. Sem saber muito bem para onde, saiu encabulada para fora e lá foi limpando a cara e o casaco com um lenço.
No final do culto (das famílias) fomos comer o que restava do bolo para casa da minha mãe, na companhia de alguns amigos e rindo muito das palhaçadas do dia. Porque "mais vale meio bolo na mão do que um no chão"."Quem te avisa, teu palhaço é!".