Mas nem todos tinham aquela postura grave e séria. Frequentava essa igreja, uma senhora já idosa, esposa de um líder da comunidade. Uma “mulher de Deus”. Ela transmitia uma paz e alegria contagiante. Tinha uma fé poderosa, no melhor estilo de George Muller.
Lembro-me que um dia ela visitou a nossa igreja. Deu um breve testemunho e uma pequena meditação. Mas aquilo que mais me tocou não foi o que disse. Mas o que não disse. A sua silenciosa confiança e esperança em Deus. Foi o seu sorriso, a paz, o amor e o Espírito que jorravam daquela irmã como fontes preciosas de água. Ela era o testemunho. Poucas pessoas tinham o seu exemplo, a sua tranquilidade e o seu carisma interior. Observava-se Cristo naquela irmã.
Passaram-se alguns anos e os poucos meninos dessa igreja cresceram e "arrastaram" outros jovens novos. Com eles veio o inconformismo próprio da irreverência juvenil. O desejo de mudanças. De "barulhos" novos. Rapidamente, fizeram-se obras. Ajudaram a remodelar o templo, tiraram alguns véus e trocaram algumas lâmpadas florescentes. Mas o seu barulho continuava. Eles queriam mais. Surgiram as questões. Os conflitos de gerações. As disputas. Fracturas. Feridas. Outros "barulhos". "Mind the gap".
A irmã idosa tentava apaziguar, pacificar, consolar e acalmar os barulhos. Mas nada mudava. E, à falta de novas mudanças, os meninos-jovens agora adultos mudaram-se dali. Resolveram abrir uma igreja. Sem barulhos de lâmpadas fluorescentes, sem véus ou hinários ou velhos. Com barulhos novos. E assim ficaram, cada um com os seus barulhos. Os protestantes têm destas coisas.
Na minha memória ainda ecoa com alguma nostalgia a reverência do barulho das lâmpadas fluorescentes, mas muito mais o silêncio e a ternura daquela irmã. Ouve-se também o barulho das cicatrizas, do ressentimento, da separação e da perda. Uns dos outros.
3 comentários:
Essa irmã é o exemplo de uma carta escrita de Deus sem dúvida... e foi bom lembrar através deste post que muitas vezes dizemos mais no nosso silêncio que nas muitas palavras e nos barulhos.
Obrigada, Jo, por mais um excelente post. :))
Este post se outro efeito não tivesse (e teve, teria o de me ter por momentos transportado à minha meninice e adolescencia.
Um Abraço.
Que Deus te Abençõe.
Boa! O silêncio é precioso. Como temos perdido com o ruído!
Talvez porque no silêncio ouvimos a Deus. Hoje temos é medo de ouvir a Deus, então, fazemos o NOSSO ruído, não o de Deus.
boa história.
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