Há uma luta dentro de cada cristão, o conflito da carne contra o Espírito. É a batalha para fazermos mal quando queremos fazer bem, que está bem expressa no testemunho de Paulo aos Romanos (Rm 7:18-24). Só quando deixamos que O Espírito nos encha e guie é que vamos ter vitória. Torna-se, por isso, imperioso dar lugar ao Espírito e não às obras da carne. As obras da carne podem dividir-se em 4 grupos.
- O 1º Grupo são pecados sexuais.
“Ora, as obras da carne são manifestas e são: prostituição, impureza, lascívia” (v.19). “Prostituição” é a tradução do termo grego “porneia”, que inclui todos os tipos de pecados sexuais, seja adultério, fornicação, masturbação, incesto, homossexualidade, entre outros. A carne apodrecida pelo pecado manifesta a natureza que lhe é própria. O impulso sexual é algo muito forte no ser humano e não é pecado, mas os desvios e abusos nesta área tem enfraquecido e destruído muitas pessoas, famílias e até igrejas.
- O 2ª grupo são os pecados religiosos: “idolatria, feitiçarias” (v.20). Estes dois pecados sintetizam a perversão do culto a Deus. A idolatria desvia a pessoa do verdadeiro Deus. João Calvino disse que o “coração humano é uma fábrica de ídolos”. A idolatria não está só ligada à religião ou às estátuas. Ídolo é tudo aquilo que recebe a adoração e a glória que pertencem somente a Deus. Deus diz: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor, às imagens de escultura.” - Is 42:8. Feitiçarias (pharmakeia, literalmente “uso de drogas”) é quando a pessoa recorre ao sobrenatural maligno para alcançar os seus fins. Bruxarias, poções, cultos desviantes e muitas outras coisas que resultam em engano, opressão e decepção.
- O 3º grupo são os pecados relacionais:
“Inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios” (v.20;21a). São alguns exemplos de pecados ligados aos relacionamentos humanos. As atitudes conflituosas, invejosas, os acessos de ira, as discórdias, divisões, os assassinatos são o resultado da carne envenenada pelo pecado. Notar o crescendo dos pecados que culminam em mortes. Muitos assassinatos se têm dado por causa do ciúme, das invejas e das raivas humanas. O ser humano que não tem comunhão com Deus tem graves problemas relacionais.
- O 4º grupo são os pecados pessoais: “bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas” (v.21b). São algumas coisas que até podem ser desejos naturais, mas que sem o necessário domínio próprio, podem tornar-se problemas graves. Podíamos incluir nas “coisas semelhantes a estas”: os vícios, a droga, o jogo, os prazeres carnais. Subentende-se que “não entrarão no Reino de Deus” todos os que fizerem estas coisas de forma habitual, reiterada e constante. Paulo não está a falar aqui da prática de um pecado isolado, mas da prática continuada destes pecados e de pessoas que não se arrependem disso.
O fruto do Espírito em oposição às obras da carne, Paulo descreve as atitudes que O Espírito Santo produz – Gl 5:22. Donald Guthrie diz que “a mudança das “obras” para “fruto” é importante porque remove a ênfase do esforço humano.” As obras da carne são resultado do nosso trabalho; o fruto do Espírito é obra do Espírito Santo em nós. O fruto é o resultado natural da vida. Uma árvore viva e saudável produz naturalmente bom fruto. Este fruto é um dom de Deus e manifesta-se na medida em que damos lugar ao Espírito Santo. O fruto do Espírito é singular, ao contrário das obras plurais da carne. É como uma laranja com 9 gomos. Para facilitar a exposição vamos dividir em 3 grupos de virtudes produzidas em nós pelo Espírito.
+ O primeiro são as virtudes primordiais: “amor, alegria, paz”. Primordiais porque surgem no início e porque são essenciais na manifestação do Espírito. O termo para amor no grego é “agapé”, que se refere ao amor de Deus. É o amor eterno, constante, incondicional, generoso, sacrificial. “Deus prova o seu amor para connosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rm 5:8. Ao contrário das paixões da carne que passam depressa, o amor do fruto do Espírito é eterno. A alegria do Espírito não é uma alegria que vem dos prazeres mas é um gozo que dá sentido e força para viver. A paz de Deus que excede todo entendimento (Fp 4:7) enche o coração de quem está cheio do Espírito, independentemente das circunstâncias. Se não há amor, alegria e paz na nossa vida, significa que estamos longe da comunhão do E.S.
+ O segundo grupo são as virtudes relacionais: “longanimidade, benignidade, bondade”. Outras versões traduzem como “paciência, amabilidade, delicadeza”. Quando deixamos que O Espírito comande a nossa vida vamos ter mais paciência com os que nos irritam. Iremos ter uma atitude gentil e bondosa para com o nosso próximo.
+ Por último, as virtudes pessoais: “fé, mansidão, temperança.” A palavra fé, também pode ser traduzida por “fidelidade” ou “lealdade”. O cristão cheio do Espírito Santo e controlado por Ele vai ter mais mansidão e domínio próprio. É fácil constatar que vivemos num mundo cheio de pessoas sem fé, altamente descontroladas e descompensadas. Falta-lhes O Espírito Santo.
Paulo termina este capítulo 5 dizendo que o cristão deve considerar a sua velha natureza pecaminosa crucificada e morta com Cristo – Gl 5:24. A nossa responsabilidade não é matar a carne, mas crer que ela já foi crucificada em Cristo (Gl 2:20). Há uma grande diferença entre viver no Espírito e andar no Espírito. Todos os cristãos vivem no Espírito quando recebem Jesus, mas nem todos andam no Espírito, ou seja, nem todos se deixam guiar e controlar pelo Espírito Santo.
O v.26 Paulo relembra que os salvos devem viver de forma coerente e correcta com os seus irmãos. “Não sejamos egoístas, nem nos irritemos uns aos outros, nem tenhamos inveja uns dos outros.” Para isso precisamos do Espírito Santo. Se alguém pensa que consegue viver a vida cristã sozinho está-se a enganar a ele próprio. Precisamos orar e deixar que Ele nos guie e oriente a nossa vida. "O fruto do Espírito é a manifestação exterior da salvação. O mesmo Espírito que nos convence do pecado e regenera é o mesmo que nos torna frutíferos na nossa caminhada cristã" escreve o Pr. Manuel Alexandre Júnior.
Somente somos justificados pela fé em Cristo e somente pelo Espírito somos santificados. Assim como não é possível salvarmo-nos pelas boas obras também não é possível viver a vida cristã pelos nossos esforços sem o Espírito Santo. Que a dependência do Espírito Santo seja a tua forma de vida, porque a vida segundo a carne leva à morte eterna. “Se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” - Rm 8:13. Que Deus nos ajude a viver na dependência do Espírito, para o seu fruto seja uma realidade em nós.
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