quinta-feira, novembro 12, 2020

Comer ou não comer? Eis a questão


"Comer ou não comer? Eis a questão". Jesus tinha sido acusado anteriormente por comer com pecadores em casa de Levi, agora reclamam com Ele porque os seus discípulos não estavam a jejuar (Marcos 2:18-22). É como diz o ditado popular: "Preso por ter cão e preso por não ter." Quando alguém está de pé atrás connosco, faças o que fizeres, vais receber acusações, críticas e pedras dessa pessoa.

Os religiosos judeus costumavam jejuar regularmente. Os mais afoitos jejuavam dois dias por semana. Jesus denunciou que muitas vezes esse jejum era uma tentativa de exibir uma santidade e superioridade espiritual que perdia todo o sentido: “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” – Mt 6:16.

À boa maneira judaica, Jesus vai responder à pergunta do não-jejum com outra pergunta e usa 3 analogias para explicar porque é que os seus discípulos não jejuavam naquele tempo. A primeira imagem é a festa de um casamento judaico. Os noivos ficavam em casa e a boda costumava durar sete dias. Nessa altura ninguém jejuava, era tempo de festa e muito comer. O noivo Jesus estava com eles. O tempo era de grande alegria pela chegada do Messias e das suas “Boas novas”.

A segunda analogia de Jesus é o remendo no pano. Quando se remendava um pano velho com um novo e o pano remendado apanhava água, o novo encolhia e rasgava o velho. Há situações em que já não se pode cozer mais remendos. William Barclay diz que na época de Lutero já não era possível remendar mais os abusos da Igreja Católica Romana. Não se pode remendar graça com lei. "Se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça."

O armazenamento de vinho foi a terceira imagem. Naquele tempo o vinho era guardado em odres de couro. Quando nova, a pele tinha uma certa elasticidade que permitia guardar o vinho, mas com o tempo, enrijecia e perdia a elasticidade. Quando o vinho novo fermentava, rebentava esses odres velhos e perdia-se o vinho e os odres. A novidade da vida em Cristo não cabe e nem se conforma com as velhas práticas da lei mosaica. 


Nas redes sociais, partilham-se muitas comidas, deliciosos petiscos e sobremesas maravilhosas. Nada contra. Fala-se pouco de jejum. Mesmo nas igrejas evangélicas pouco se fala de jejum. O que é o jejum bíblico? Podemos dizer que é a abstinência total ou parcial de alimentos por um período definido e com um propósito específico. Se não existir um propósito concreto o jejum é apenas passar fome ou então parte de uma dieta. E há bons argumentos bíblicos para jejuarmos! Jesus jejuou. Os apóstolos jejuaram. O jejum faz parte da história da Igreja cristã. O jejum faz-nos bem porque mortifica-nos a carne e ajuda-nos a termos mais fome de Deus. Jesus disse que determinadas castas de demónios só saem quando há oração e jejum (Mt 17:21). Devemos jejuar por nós, pela liderança, pela igreja e pelos que não são salvos. 

Jesus validou o jejum para os dias depois da sua ressurreição e também ensinou nesta passagem alguns princípios fundamentais. A espiritualidade não depende de rituais religiosos. Em Cristo estamos livres do legalismo da Lei judaica. Se é verdade que o jejum de bife e vinho não salva ninguém, também não é mentira que precisamos ter posturas adequadas em cada época. Há tempo para comer, há tempo para jejuar.

O Evangelho da graça de Deus não é um remendo, é uma roupagem completamente nova: “Quem está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo.” (2Co 5:17). Existem alterações de práticas e comportamentos no novo cristão, mas são fruto da renovação de Deus no nosso interior. 

Pratiquemos o jejum com propósitos específicos e alegremo-nos por quem Deus é por aquilo que Ele faz. Nem só de pão viverá o homem e a melhor sobremesa está guardada para o fim.

Sem comentários: