quarta-feira, abril 19, 2017

O segredo está na massa

Num estudo realizado por uma equipa de cientistas da Universidade da Califórnia foi descoberto o segredo da longevidade dos monumentos romanos, que resistem firmes há mais dois milénios. O segredo está "na massa". Melhor dizendo, na argamassa, o ligante que une as diferentes pedras das construções. Quando os investigadores misturaram a argamassa de acordo com a fórmula do arquitecto romano Vitrúvio, verificaram que a mistura continha aglomerados de um mineral chamado “stratlingite”, formado pela reacção entre o calcário e a matéria vulcânica. Concluíram que os cristais de “stratlingite” são semelhantes às microfibras usadas nas argamassas actuais, só que as massas romanas oferecem um reforço maior e são ainda mais resistentes à corrosão.

Esta descoberta fez-me pensar nos relacionamentos humanos. Haverá algum segredo que garanta a longevidade nos relacionamentos? Porque é que algumas amizades, casamentos e relacionamentos são duradouros e outros não? Existirá algum ligante que una as pessoas?
Sem dúvida que as relações humanas são complexas, e sem querer simplificar aquilo que é complicado, acredito que existe efectivamente algo que faz solidificar os relacionamentos humanos. É o amor. O amor é o melhor ligante nos relacionamentos. Quando digo amor, estou a pensar em todos os contornos que o amor abarca: o respeito, a confiança, o perdão, o apoio. Quem ama respeita, quem ama confia, quem ama perdoa, quem ama apoia e suporta.

Assim como existem testes à solidez das argamassas, também há testes que comprovam a solidez dos relacionamentos. Estou a lembrar-me de três testes: o teste da ausência, o teste da divergência e o teste da lealdade.
1. A ausência pode enfraquecer um relacionamento, mas também pode potenciar e fazer aumentar o amor e a saudade. Não é por um familiar viajar ou emigrar que o deixamos de amar. O reencontro é uma festa. Amigos verdadeiros não se perdem, quer estejamos perto ou longe deles. O amor resiste ao teste da distância e do tempo.

2. O segundo teste é o da divergência. Existem discordâncias e conflitos em todos os relacionamentos. Quando não conseguimos superar as discórdias e nem respeitamos opiniões divergentes falta-nos amor. Para se cultivar bons relacionamentos é fundamental ter boa memória para as coisas boas e má memória para as más. Saber ouvir e perdoar quem não concorda connosco não só é prova de educação, é sintoma de bom relacionamento. "Em todo o tempo ama o amigo; e na angústia nasce o irmão" (Provérbios 17:17).

3. Um terceiro teste é o da lealdade. Lealdade no sentido de fidelidade e no guardar as costas do meu amigo. Blaise Pascal advertiu que “poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas”. A Bíblia refere que Jónatas defendeu o seu amigo Davi perante as acusações injustas do seu pai Saúl. Por ser um bom amigo fiel, Jónatas ia sendo morto quando Saúl ficou de tal forma enfurecido que tentou matá-lo. A lealdade é essencial em qualquer relacionamento.

O maior exemplo de firmeza e solidez nos relacionamentos foi dado por Jesus Cristo. Ele é o nosso melhor amigo. Perante o nosso distanciamento pecaminoso, Jesus amou-nos, morreu e ressuscitou para nos salvar. Não há maior prova de amor e amizade que esta (João 15:13).

À semelhança dos sólidos edifícios romanos, a durabilidade das relações depende do ligante usado. O amor, o perdão, a lealdade, o sorriso, estão certamente no topo da lista dos melhores ligantes humanos. Fortalecem as relações e fazem-nas perdurar no tempo.

Escrevi há algum tempo aqui que a durabilidade da amizade é quase como a da salvação. Ou se é salvo, ou nunca se foi. Ou se é amigo ou nunca se foi. Assim como nunca se perde a salvação, nunca se perdem os verdadeiros amigos.


Jorge Oliveira
(Crónica publicada na edição nº 165 - Abril-Junho 2017, na Revista Refrigério)

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