quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Duas lembranças rápidas

A primeira coisa a se esclarecer no cristianismo quanto à moralidade interpessoal é que, nesse particular, Cristo não veio para pregar nenhuma moralidade totalmente nova. A regra de ouro do Novo Testamento ("faça aos outros o que gostaria que os outros fizessem com você") é um resumo do que todo mundo, no fundo, sempre soube ser o certo. Os verdadeiros grandes mestres da moral jamais introduziram novas moralidades: só os charlatães e excêntricos fazem isso. Como dizia o Dr. Johnson: "As pessoas precisam com mais frequência ser lembradas do que ser instruídas". A verdadeira tarefa de todo mestre da moral é continuar a trazer-nos de volta, de tempos em tempos, os velhos e simples princípios que fazemos questão de não enxergar. É como levar um cavalo sempre de volta ao obstáculo que ele se recusou a pular, ou uma criança de volta ao ponto da lição do qual ela tentou se esquivar.

A segunda coisa a esclarecer é que o cristianismo não tem, e não professa ter, um programa político detalhado a ser aplicado em uma sociedade particular num determinado momento sob a bandeira do "faça aos outros o que gostaria que os outros fizessem com você". Nem poderia ter. Ele se destina a todas as pessoas, de todos os tempos, e o programa mais adequado para um lugar e um tempo pode não o ser para outro. Enfim, não é assim que funciona o cristianismo. Ele manda alimentar os famintos, mas não oferece aulas de culinária. Manda ler as Escrituras, mas não dá lições de hebraico e grego, nem mesmo de gramática em sua própria língua. O cristianismo nunca pretendeu substituir ou anular as artes e as ciências humanas: é, antes, como um director que encaminha os alunos para as tarefas certas e como uma fonte de energia que dá nova vida a todos, se apenas nos colocarmos à sua disposição.


Mere Christianity (Cristianismo Puro e Simples), de C. S. Lewis.
Via Devocional Um Ano com C. S. Lewis, Editora Ultimato.

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