Incomoda-me esta maneira de ser e fazer cidade. Mexe comigo o crescente egoísmo e individualismo da nossa sociedade urbana. A estóica e sobranceira indiferença com o próximo. Nada disto é novo e ao que parece é um fenómeno que está a aumentar. Segundo o jornal Público, desde o início do ano, só em Lisboa, foram encontrados mortos em casa dez idosos.
Onde estavam os familiares, amigos e vizinhos destas duas pobres irmãs? Para que serve a igreja, a protecção civil, a segurança social, os políticos, as autarquias, as freguesias, os bombeiros, a polícia, se os velhos morrem sozinhos e abandonados? Sim, eu também sou culpado. Mas não quero ser.
4 comentários:
É um assunto importante de ser abordado!
Não compreendo a acusação aos bombeiros. Que intervenção podiam ter e que não desenvolvem actualmente para evitar esta situação?
No âmbito da saúde, os bombeiros são um corpo de prestação de socorro e cuja competência se restringe à intervenção pré-hospitalar, com o objectivo exclusivo de manutenção dos sinais vitais e transporte até à unidade hospitalar mais próxima, para receber o necessário tratamento.
Sempre que há comprometimento da função cardíaca ou respiratória é chamada a Viatura de Emergência Médica e Reanimação, constituída por um médico e um enfermeiro, os únicos técnicos de saúde com capacidade para actuar do ponto de vista clínico e farmacológico.
A criação de emprego na área social é a única resposta, com implementação de equipas multidisciplinares (assistência social, enfermagem, psicologia) dedicadas igualmente à prevenção e detecção precoce de situações de risco, em estreita ligação com os centros de saúde e segurança social.
Actualmente, a assistência domiciliária ocorre quando há pedidos nesse sentido. Porém, importaria desenvolver toda uma rede preventiva, tipo porta-a-porta para identificar necessidades, de acordo com os dados que as juntas de freguesia e segurança social têm sobre idades, condição económica, etc.
Cara Ana Sartótis,
Mais do que acusar, o meu post é um desabafo que pretende denunciar a solidão crescente das grandes cidades, resultado, sobretudo da sobranceria, indiferença e individualismo que cada vez mais aumenta especialmente no tecido urbano.
Concordo que alguma coisa já está a ser feita, mas os recentes factos revelam que muito mais há a fazer.
No caso concreto dos bombeiros que falou, eles também têm a sua quota de responsabilidade. A Portaria n.º 571/2008 publicada a 3 de Julho, que regula a actividade operacional dos bombeiros, define na alínea c) do Artigo 3º as seguintes responsabilidades:
"Informação e sensibilização, a actividade de divulgação, informação e sensibilização das populações nas matérias de protecção civil e autoprotecção";
e na alínea e)
"Prevenção e patrulhamento, a actividade de prevenção e controlo, com vista a atenuar, reduzir ou limitar a ocorrência de riscos"
Embora percebendo que o papel primário dos bombeiros é de prestação de socorro e de situações de emergência, também não pode ser descurado o seu importante papel pedagógico e preventivo de "informação e sensibilização das populações nas matérias de protecção civil e autoprotecção".
É por acharmos que não temos nada a dizer nem a fazer nesta matéria que os velhos, lamentavelmente, continuam a morrer sozinhos.
Boa noite,
Tod@s temos muito a fazer. E tudo será sempre pouco para minimizar o impacto de medidas de austeridade impostas a quem menos tem.
Recordo que o RSB e a Proteção Civil têm uma brigada permanente para apoio a pessoas que vivem sozinhas e idosos, indo ao encontro das pessoas identificadas como vivendo sozinhas e sem família conhecida. É um exemplo de uma iniciativa além das competências dos bombeiros.
As iniciativas de sensibilização da população previstas na lei são diferentes do trabalho de acompanhamento efectivo que as pessoas deveriam ter. Essa é uma competência da segurança social, ministério da saúde e autarquias, responsáveis máximos e a quem todas as exigências devem ser clamadas.
Importa ainda ressalvar que a grande maioria dos bombeiros operacionais do país são voluntários, sendo o seu contributo como cidadãs e cidadãos ímpar. A função desempenhada por estes homens e mulheres deveria ser assegurada de modo profissional, do ponto de vista contratual, pois a necessidade da sua actividade é permanente e colmatam a carência na oferta de serviço público que o Estado deveria promover.
Cabe a cada uma de nós e cada um de nós, cidadãs e cidadãos, estar mais atentos ao mundo que nos rodeia. Conhecer o vizinho da frente ou do lado, quem mora na nossa rua ou praça pode ser o primeiro passo de uma urgente mudança na organização social, onde o espírito de comunidade e entreajuda seja uma realidade.
Assim se contrói um mundo mais justo, fraterno e solidário ;)
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