Escargots

A primeira vez que comi caracóis aconteceu numa patuscada com os meus tios, eu devia ter uns dezoito anos. Depois de se jogar cartas, rir bastante e beber uns copitos, entrou um tacho fumegante, cheio de gigantes moluscos refogados. Primeiro olhei enojado, lamentando a sorte dos pobres bichos. Depois, devido à insistência dos amigos dos meus tios, lentamente, muito vagarosamente, provei um caracol. Enquanto comia, não conseguia abstrair-me do líquido viscoso e nojento que os rastejantes bichos costumam largar. Disse-lhes que não gostava muito. Que estava satisfeito do almoço. Nunca mais tornei a comer caracóis.

Tiveram que se passar mais de vinte anos para fazer a digestão da comezaina dos caracóis dos meus tios. Ontem, depois de termos passado um tempo muito divertido com os casais da minha igreja nas Lagoas de Bertiandos, junto ao rio Estorãos, perto de Ponte de Lima, fomos petiscar caracóis, num café perto. Não eram gordos nem viscosos, mas uns caracoizinhos brancos e pequenos, diria quase bebés. Talvez tenha sido aquela alva e pueril inocência, que me fez engolir alguns. A cerveja Boehmia e a presença bem temperada de uns Mouros amigos também ajudaram à sua degustação. Dizem que é no Sul que se comem mais, mas as mesas daquele café nortenho, estavam cheias de copos e de travessas cheias de pequenas carapaças vazias. De escargots!