“E foi assim que aquela chuva benéfica, de arroz polido, carolino, de primeira, acabou por lhe dar a noção concreta de uma Providência. O arroz vinha do Céu, como a chuva, a neve, o sol e o raio. Deus, no Alto, pensava no limpa-vias, tão pobre e calado, e mandava-lhe aquele maná para encher a barriga aos filhos. Sem ele ter pedido nada. Guardou segredo – é mau contar os prodígios com que a graça divina nos favorece. Resignou-se a ser o objecto da vontade misericordiosa do Senhor. E começou a rezar-lhe fervorosamente, à noite, o que nunca fizera: ao lado da mulher. Arroz do Céu...
O Céu do limpa-vias é a rua que os outros pisam.”
In Gente da Terceira Classe, Lisboa, Editorial Estúdios Cor, 1971, pp. 67-71 (1ª ed. 1962)
Quem tiver tempo e vontade, pode ler (se possível vagarosamente) todo o texto aqui.
2 comentários:
Muito boa a história.
Deus espreita e fala de muitas formas.
Onde menos pensamos e com quem menos esperamos.
Ainda que nos calemos, as pedras clamarão!
Fiz minha visita diária ao seu blog. Gostei do que li, como sempre. Me fez lembrar do Vietnã, em particular, onde essa história cairia como uma luva. Obrigado.
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