terça-feira, dezembro 06, 2005

Castração das asas

Numa noite destas li A Metamorfose de Franz Kafta. Percorri a cativante e estranha história de Gregor Samsa, o caixeiro-viajante que acorda um dia transformado num insecto gigante, tipo escaravelho monstruoso.

Acompanhei a misteriosa mutação daquele bicho-homem; o desprezo e desdém da parte de todos os que o rodeavam. Dada a sua condição, deixou o emprego e parou de contribuir com o seu salário para a sua família. Tornou-se um improdutivo. Um estorvo. Um pária.
Tantas vezes a nossa sociedade procede com indiferença, escárnio e preconceito contra as minorias e contra tudo que é diferente ou aparentemente improdutivo.

No final da história, Gregor Samsa desfalece solitariamente abandonado. Morre tristemente sem descobrir que tinha asas nas suas costas. A solidão, o abandono, a dor e desprezo mataram-no.
Quantos de nós também não matamos escaravelhos com palavras, com atitudes de desprezo ou com um silêncio ignóbil? Quantas vezes castramos as asas a quem quer voar?



“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome.” (da Bíblia).

2 comentários:

Vilma disse...

Interessante esta tua avaliação!
Para pensar...

entre-aspas disse...

E tão somente lhe bastava ter-se contemplado ao espelho, para aperceber-se da "sua nova realidade"!

Quanto ao livro, confesso que já o li e não gostei.