terça-feira, setembro 29, 2009

Os cristãos e a política

O Vítor Mota lançou a questão, "E se houvesse um partido evangélico"? Será que deverá existir em Portugal um partido estritamente evangélico?

Possivelmente não haverão respostas simples a estas questões. Se é certo que não me repugna a ideia de um "partido evangélico", também confesso que tenho muitas dúvidas quanto à sua existência e eficácia. Aliás, já existem alguns partidos apelidados de "cristãos". Partidos que têm na base ideológica e programática a defesa da democracia baseada nos ensinamentos e princípios cristãos. Infelizmente, muitos deles, negam com a sua linha de acção os valores emblemáticos do cristianismo.

A avaliar pela experiência no Brasil (e noutros países), os partidos evangélicos revelaram-se um grande engano. Equívocos, corrupções e escândalos, vendidos a troco de um "voto santo", espalhando um terrível rasto de mau testemunho cristão.
A história também revela que a cristianização do estado e do mundo pela via política deu sempre maus resultados. Isto não quer dizer que não existam ou tenham existido excelentes políticos cristãos, que intervieram e contribuíram de uma forma altamente benéfica para a sociedade.

Os evangélicos (e não só) sempre tiveram esta obstinação associativa correlegionária (inventam-se organizações para tudo e para todos), para governar o mundo, pensando que ele se transforma pela força do poder e da influência, política ou religiosa. Ora é precisamente aqui que reside o grande equívoco. Para sermos “sal e luz” não precisamos criar mais um “saleiro santo” de poder. Uma teocracia imposta, é uma medonha contradição que só conduz a fanatismos extremados. Além disso não existem políticas santas (e muito menos guerras) que irão mudar para melhor este mundo perdido. Só mesmo Deus é capaz disso.

Uma outra questão se levanta, porque é que só pode haver um partido a monopolizar ou representar a fé cristã? Outros são livres de os criar, dir-me-ão. Mas às tantas, teríamos tantos partidos (pequenos e divididos) como a miríade de denominações que já existem, e que são vergonha suficiente para o Corpo de Cristo.


Na minha opinião, é preferível que cada cristão assuma abertamente o seu posicionamento político e que cumpra o seu dever de boa cidadania. Será que todos os cristãos costumam votar? Quantos cristãos assumem os partidos e os programas que votaram? Ou é indiferente o voto dos cristãos?
Escrevi anteriormente que “compete a cada evangélico informar-se dos programas de cada partido e rejeitar os partidos que defendem valores contrários ao Evangelho e escolher o que mais se aproxima do seu ideário cristão. Considero incorrecto usar o púlpito para fazer campanha política, mas creio que a nível pessoal cada cristão é livre para defender e apontar o partido político que julga ser mais consentâneo com as suas convicções.”

Devemos participar na vida pública e política como bons cidadãos, respeitando quem não quer nada com o Evangelho e aceitar a independência e laicidade do Estado. Compete-nos orar, obedecer e abençoar as autoridades instituídas. Isto não quer dizer que não possamos (à semelhança de tantos bons profetas do Velho e Novo Testamento), denunciar as injustiças e os erros políticos que desvirtuam os princípios e os valores cristãos.
Por outro lado o envolvimento na política nunca deverá ter o fim de "cristianizar" o mundo ou para fazer prosélitos para a sua igreja ou denominação, antes, vivendo e defendendo a mundividência cristã, contribuiremos certamente para a paz, justiça e progresso das nações.

Acima de tudo, lembrar que a nossa grande mensagem é o Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo e que o nosso reino não é deste mundo (João 18:36; 15:19; 17:14-16). O chamado elevado dos verdadeiros cristãos não é formar partidos, antes ser a Igreja “santa e irrepreensível” que glorifica Deus, dentro e fora dos templos. Deus é O único Rei que governa bem.

8 comentários:

O Tempo Passa disse...

Partido evangélico?!?! Misericórdia!!! Uma insensatez homérica. Mais: aqui no Brasil não houve e não há partido evangélico. E se implantarem um, não terá meu voto!!!
Cada maluquice que inventam...

Vilma disse...

Muito oportuna e esclarecedora a tua opinião!
Excelente artigo, Jorge.
Está tudo dito, nada mais tenho a acrescentar.
Um bem haja!

Unknown disse...

Cem por cento de acordo. Nem partidos evangélicos, nem partidos da moral sexual, antes o esclarecimento e a intervenção social (e política) individual, segundo os nossos princípios de vida inspirados pelo Evangelho.

bl

Jorge Oliveira disse...

Rubinho,
De facto houve alguma inexactidão da minha parte relativamente aos partidos no Brasil, porque eles não existem de uma forma legal. Existe contudo desde 1996 o PNE, Partido Nacional dos Evangélicos, cujo presidente nacional é o pastor João Rocha, mas ainda sem reconhecimento do Tribunal Superior Eleitoral (http://www.spacegospel.com/2008/01/novo-partido-evanglico-surge-defendendo.html).

Mas quando referi o exemplo brasileiro estava a lembrar principalmente da alegada ligação do PL (Partido Liberal) à Igreja Evangélica.

Estava a lembrar-me da “Frente Parlamentar Evangélica”, também chamada de "bancada evangélica", criada oficialmente em 2003 e que inicialmente era composta por cerca de 60 evangélicos e que, em virtude dos vergonhosos escândalos do “Mensalão e dos Sanguessugas”, tem hoje cerca de 40 parlamentares.


Um bom artigo para se perceber os partidos evangélicos no Brasil que muitos desejam, está escrito por Júlio Severo aqui.

Vitor Mota disse...

Algumas notas e questões:
-a pergunta era de reflexão pós (e pré) um período eleitoral e portanto é perfeitamente legítima.
- a pergunta não encerra em si uma resposta
- o contexto português é muito diferente do brasileiro
- Como evangélicos, houve ou não dificuldade em fazer uma escolha em algum dos partidos actuais?
- Partido evangélico seria o quê exactamente?
- Até que ponto um deputado cristão evangélico, num qq partido seria diferente e mais "bíblico" do que um num partido de cariz evangélico?

analisedasemana disse...

Sou da opinião da maior parte de vós que comentou!
Partido evangélico? UFAAA! Espero bem que não!

Pessoas cristãs, evangélicas envolvidas até ao pescoço! Vamos a isto!
Conheço presidentes da junta em Portugal cristãos evangélicos, conheço candidatos a juntas de freguesia e assembleias municipais, deputados no parlamento português cristãos evangélicos. Conheço na CDU, no PS e no PSD. Não conheço nos outros partidos, nas listas cristãos evangélicos. Mas acredito que pelo menos no cds poderia e deveria existir...

E o partido pró-vida? Acham que tem futuro? Tem lá muitos evangélicos...

Anónimo disse...

seria melhor, acredito que sim. como esta sendo ensinado na escola pornografia entre outros como a tv. acredito plenamente no partido evangelico

Anónimo disse...

acredito e aceito partido evangélico no pais era para existir a muito tempo.