segunda-feira, fevereiro 24, 2014

O milagre na Casa da Misericórdia

Em Jerusalém, na zona Norte, estava um tanque com 5 alpendres chamado Betesda, que significa “Casa da Misericórdia”. Junto a este tanque estavam muitos cegos, coxos, paralíticos, esperando o movimento das águas. Constava-se que um anjo agitava a água e o primeiro doente a entrar no tanque seria curado. Podemos perder muito tempo nos detalhes desta questão, dizendo que era uma tradição popular da época, que as águas tiram propriedades terapêuticas, mas João não tece muitas considerações acerca de um eventual lago milagroso e remete a nossa atenção para um homem que ali estava, doente há 38 anos.

Jesus viu este homem deitado. Por mais desprezada que seja a pessoa, Jesus vê e ama quem muitas vezes mais ninguém quer ver e amar. Faz-lhe uma estranha e quase ofensiva pergunta: “Queres ficar são?” As perguntas de Jesus estão sempre relacionadas com a necessidade real de lhe confessarmos algo. Será que aquele homem queria mesmo ficar curado? Seria a doença daquele homem uma fuga das exigências e responsabilidades da vida?
Pela sua resposta “não tenho ninguém!”, percebe-se que ele estava a olhar mais para aquilo que não tinha, para as impossibilidades do seu tolhimento, do que a confiar n’Aquele que estava diante dele e queria cura-lo. Não eram só as águas do tanque que estavam paradas para aquele homem, era a sua própria vida que estava toda paralisada. O pecado tolhe e atrofia sempre a nossa vida (v. 14).

Mas Jesus, O Logos criador, vai ordenar àquele homem: “Levanta-te, toma a tua cama e anda!” Werner de Boor diz que esta “é uma ordem criadora, que torna possível o impossível que exige.” Jesus é a Palavra viva e criadora. Lemos que aquele homem ficou imediatamente são e, tomando a sua cama, partiu. Nada é dito sobre a fé do enfermo, mas a sua pronta obediência evidencia o dom. Jesus é o único que nos levanta da paralisia espiritual.
Os Judeus, vendo o homem a carregar o seu leito, acusaram-no de estar a violar as leis do sábado. A ironia dos legalistas é curiosa: perante o grandioso milagre operado por Jesus, a sua atenção prendeu-se na quebra formal do seu código de regras religiosas. O pior cego é o que não quer ver a graça e a misericórdia do Messias (João 9:39-41). Talvez para evitar problemas, o homem que foi curado passou “a culpa” de levar a cama para quem o curou.

Mais tarde Jesus encontra-o no templo. Dá-lhe uma solene advertência: “Eis que já estás são; não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior.” A grande lição desta passagem é mesmo esta. O pecado é algo sério e que traz consequências dramáticas. Deus odeia o pecado e ordena-nos que não pequemos.
O sinal que Jesus fez naquela “Casa de misericórdia” foi pessoal – abençoou um só homem -, mas a lição é para todos nós. O que é que realmente nos incomoda e consome? São os detalhes, os pormenores, as minudências religiosas ou é o nosso próprio pecado? Deus ordena que deixemos todo o embaraço e o pecado, a indolência e a preguiça e levantemo-nos na força do seu poder!

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