segunda-feira, abril 26, 2010

Desembrulhar as palavras

Estava naqueles dias em que lhe apetecia escrever. Não importava o que fosse, apenas deixar-se deambular pelas palavras. Vertê-las uma por uma para o seu processador de texto: para o mundo – o seu mundo. Não será o melhor da escrita, a escrita per si? O prazer de tingir o papel? Cortar aqui, retocar ali, reescrever uma frase, desembrulhar lentamente uma e outra ideia. Ou então apenas brincar correndo com elas: sorrir para uma, ornamentar outra. Passear pelos desenhos das suas cores, formas e cheiros. Deixar-se conduzir pela correnteza doce, por vezes cruel, das letras? Sim. Mas o tempo era pouco. E o tempo pode ser um austero carrasco das palavras. Tinha que parar.

Agora, ele hesitava entre guardar o breve parágrafo ou de o eliminar liminarmente, num segundo, como quando se retira o papel do presente. Resolveu ficar com ele. Tanta coisa podia ter sido escrita. Pouco estava dito. Ainda que nada, rasgado, sentia-se bem. Ainda mais feliz.

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