terça-feira, dezembro 03, 2013

O retrato salpicado pela lama

Nikolai Gógol termina um dos seus espantosos contos, da série "Contos de Petersburgo" ("O retrato" - Editora Assírio & Alvim), com os conselhos finais de um velho pai, outrora pintor, ao filho que tinha acabado os estudos na Academia com distinção. O sábio ancião roga ao seu filho para ele guardar a pureza da sua alma e conta-lhe uma história:

"Se um homem sai de casa com o seu fato de cerimónia claro, basta um salpico de lama provocado pela roda de uma carroça para toda a gente o rodear, lhe apontar o dedo e comentar a sua falta de asseio, mas não repara nas muitas nódoas nas roupas de todos os dias que envergam os outros transeuntes. É que na roupa do dia a dia não se vêem as manchas."

A seguir, o pai pede-lhe encarecidamente que destrua um terrível quadro que ele tinha pintado com a lama do seu próprio coração cobiçoso. O filho, demora quinze anos a encontrar a tenebrosa pintura. Quando encontra o quadro, ele desaparece misteriosamente. Ou talvez não.

Sem comentários: