Dos que tudo sabem

Nasreddin Hodja subiu ao púlpito. Fora convidado a fazer um sermão aos habitantes da aldeia. E começou assim: «Meus irmãos, sabeis do que vos vou falar?» «Não!», gracejaram certas criaturas. «Nesse caso, abster-me-ei de tentar ensinar uma comunidade tão limitada», retrucou Hodja, que voltaria uma semana depois, iniciando o discurso com uma pergunta análoga: «Meus irmãos, sabeis o que vos vou dizer?» Como ele ferozmente os olhasse, alguns sentiram-se obrigados a soltar a resposta contrária: «Sim!» «Nesse caso, nada mais tenho para vos dizer», resumiu Nasreddin, abandonando o púlpito. Na última vez, insistiu: «Meus irmãos, sabeis o que ides ouvir?» Houve quem declarasse que sim e quem referisse que não. «Nesse caso – concluiu o mestre –, nada de mim ouvireis. Que aqueles que estão ao corrente informem os outros.»


AAVV (1981), Sociedades Secretas, vol. VI, Lisboa, Círculo de Leitores, p. 80
(Colhido no Divina Comédia).