sexta-feira, setembro 17, 2010

Almas mortas

Já foi a semana passada que acabei de ler "Almas Mortas" de Nikolai Gógol. É difícil falar do livro. Gógol foi o homem que introduziu o realismo na literatura russa e que marcou indelevelmente os grandes autores russos que se seguiriam, como por exemplo Tolstoi e Dostoiévski.

A obra foi pensada em 3 partes, à maneira Dantiana: Inferno, Púrgatório e Paraíso. Gógol demorou cerca de 15 anos para escrever os dois primeiros tomos e por duas vezes queimou os manuscritos da segunda parte, salvando-se do fogo apenas cinco capítulos. "Almas mortas" é uma crítica mordaz e satírica do regime czarista, com um funcionalismo público corrupto e dos senhores rurais que exploravam desumanamente os escravos da Rússia esclavagista da primeira metade do século XIX.

O vigarista Tchíchikov faz uma viagem por toda a Rússia, com o propósito de comprar "almas mortas" - escravos já mortos -, para um fim enigmático que ninguém sabe muito bem. Personagens, uns caricatos, outros densos, caracterizadores da sociedade Russa, vão desfilando na viagem de Tchíchikov com o célebre humor cáustico e denunciante de Gógol. O fim, esse não se sabe ao certo, morreu prematuramente com o seu autor. Mas esta obra épica, é a prova que os livros não precisam de fim para serem grandes obras. Apreciar a vida em cada detalhe, a cada dia. Anton Tchekhov percebeu muito bem esta e outras lições do escritor ucraniano.

"Almas mortas" expõe a nu a deformidade espiritual e moral inerentes ao ser humano, mas ao mesmo tempo pinta a beleza e a luminosidade sublime do céu, lançando um grito desesperado pela dignidade humana. Por Deus.



"Feliz é o escritor que, contornando os caracteres aborrecidos, repugnantes, que espantam pela sua realidade triste, vai ao encontro de caracteres que revelam a alta dignidade do homem".
Nikolai Gógol (P.175)

1 comentário:

Filipe disse...

Essa é obra, a meu ver, atrás de Crime e Castigo, o maior colosso da literatura russa. Não ter fim parece-me que transferiu ao leitor o imaginário da continuidade, e talvez seja essa a beleza última de toda a obra.